Como ser prisioneiro duraante nove meses entre indígenas que gostavam de comer carne humana, ter sobrevivido a naufrágios e a travessias do Oceano Atlântico em navios precários, com água e comida insuficientes e ainda voltar para casa e contar a história, desafiando alguém a chamá-lo de mentiroso.
Esse é o resumo da vida do alemão Hans Staden, nascido em Homberg, na atual Alemanha, e que veio duas vezes ao Brasil, primeiro como tripulante de um barco português, depois em uma frota espanhola. Mercenário, participou de combates contra franceses (inimigos dos portugueses e dos espanhóis) e contra indígenas, mas acabou aprisionado pelos tupinambás e esteve a um passo de ser assado em um moquém.
Lido e relido

Capa e ilustrações do livro com a versão infantil de Hans Staden, escrito por Monteiro Lobato (Reprodução do livro)
Eu tinha lido – há muitos anos – sobre o aventureiro e mercenário alemão no livro “As aventuras de Hans Staden” (Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1971), que faz parte da coleção do Sítio do Pica-Pau Amarelo, do Monteiro Lobato. Eu reli a obra agora, na sequência da leitura do texto original.
Antes eu não sabia se o cara era real, pois a história de um europeu que viveu em uma aldeia tupinambá, entre indígenas canibais, e não foi comido, voltando à Europa para contar a aventura, para mim era extraordinário.

Montagem com ilustrações sobre a preparação de um índio carijó pelos tupinambás (Ilustrações Theodor de Bry/Reprodução do livro)
Ganhei de presente do meu filho Guilherme um pacote de livros, em que dois deles contavam histórias de viajantes em um Brasil de outros tempos. Entre as obras estava o “Duas viagens ao Brasil”, do próprio Hans Staden (Editora L&PM, Porto Alegre, 2022), que foi o último a ser lido.
Como sempre faço quando leio um livro, tentei participar (mentalmente) das experiências do autor; No presente caso, ainda no início da primeira viagem, preferi voltar à condição de leitor, pois só de ler as atribulações marinhas enfrentadas por Staden e seus colegas de navio, eu tive enjôo.
Definitivamente eu não serviria para ser marujo, muito menos passageiro, naqueles tempos das naus, galeões, caravelas ou bergantins. Menos ainda nos atuais iates de cruzeiro ou numa simples “rabeta” amazônica.
No entanto, encaro o mar, na distância segura das páginas de um livro.