
Encontro entre Chico, Pelé e Roberto Carlos, em maio de 1971, no Programa Flávio Cavalcanti (Foto do perfil de Cledson Alcides da Silva/Facebook/Reprodução)
Na década de 1970, nas noites de domingo, lá em casa assistíamos ao programa “Programa Flávio Cavalcanti”, a primeira atração da TV brasileira transmitida por satélite para todo o Brasil. Era uma mistura de programa de auditório com júri, com entrevistas sobre assuntos diversos e música.
Foi nesse programa que vi o encontro de três grandes personalidades brasileiras, que teriam que fazer alguma coisa diferente de suas habilidades e esse encontro ficou na minha memória por um detalhe: uma piada. Os convidados eram Pelé, Roberto Carlos e Chico Anysio.
Pelé se apresentou tocando violão e cantando uma música de sua autoria; Chico Anysio fez embaixadinhas com uma bola e coube a Roberto Carlos contar uma piada. Tímido, ele disse que não costumava contar piadas, porque não sabia de nenhuma e que estava nervoso para aquela participação até momentos antes de entrar no palco, quando, nos bastidores, Chico Anysio contou uma piada que ele iria repetir.
Desde aquela noite a anedota entrou no meu repertório e já a contei “milhares” de vezes, para desespero de meus interlocutores.
Joãozinho Onze Dedos
A piada do Chico Anysio, contada pelo Roberto Carlos, é a seguinte:
O Joãozinho tinha a mania de fazer contas de aritmética usando os dedos. A professora tentava de todos os jeitos que o menino fizesse o cálculo usando tracinhos e outros métodos, mas ele insistia em contar nos dedos.
Um dia apareceu na escola um inspetor escolar, um “temido” funcionário da secretaria de educação que percorria as escolas verificando se o programa de ensino estava sendo aplicado, além de aferir o desempenho de alunos e professores.
Por estas coincidências explicadas pela “Lei de Murphy”, a sala do Joãozinho foi sorteada para ser avaliada e a professora já prevendo que o próprio Joãozinho é que seria o representante da turma perante o inspetor, falou ao menino baixinho: “Se o inspetor chamar o seu nome, você coloca as mãos nos bolsos. Entendeu? Coloca as mãos nos bolsos! Não se esqueça, mãos nos bolsos”.
O inspetor chegou na sala, acompanhado pela diretora, que estava nervosa (ela conhecia a mania do Joãozinho), cumprimentou a todos e apontou um aluno, aleatoriamente. O dedo do inspetor apontou o Joãozinho.
– Você aí, vem aqui na frente, disse o inspetor.
O menino se levantou e foi para a frente da turma. Quando olhou para a professora, ela fez um gesto para que o menino colocasse as mãos nos bolsos e foi prontamente atendida.
– Responda: quanto são cinco mais cinco?
Silêncio na sala. Os coleguinhas prenderam a respiração. A diretora e a professora suavam frio e o rosto do menino demonstrava a concentração mental para solucionar aquele complicado cálculo algébrico.
A resposta saiu com uma voz firme e confiante:
– Onze!
[Crônica CLXXVII/2024]