
Primeiro de uma série de três volumes onde são destacadas mulheres de todas as classes sociais que fizeram a história de São José, mesmo na aparecendo nos livros (Divulgação)
Entre tantas, uma coisa que chamou minha atenção no livro “Algumas de tantas mulheres de São José”, lançado há alguns dias pelas escritoras e irmãs Jane Maria de Souza Philippi e Giana Schmitt de Souza, foi com relação à fertilidade das mulheres imigrantes, tanto as portuguesas, como as açorianas e depois as alemãs, que vieram povoar onde é hoje a nossa São José.
Se hoje, a situação da saúde pública é preocupante, fico imaginando como era no passado, especialmente para aqueles colonos que atravessaram oceano e foram encaminhados para terras desconhecidas, com um clima diferente daquele que estavam acostumados na Europa e uma luta diária pela sobrevivência, pois tinham que disputar o terreno, “dados” pela Coroa Portuguesa, com os verdadeiros donos da terra, os povos indígenas que aqui habitavam.
No entanto, as mulheres tinham alta fertilidade. Encontrei, no livro de Giana e Jane, registros de famílias que tiveram muitos filhos depois que chegaram aqui, como foi o caso da dona Margarida Martendahl, que deu a luz 13 vezes, ou da senhora Anna Kuhnen, que foi mãe de 15 filhos, para dar apenas dois exemplos.
Repito, no meio do mato, sem qualquer assistência médica ou de outra espécie qualquer.
Pioneiras
Outro destaque que faço é com relação às “pioneiras”, mulheres que se destacaram por ocupar a vanguarda ou quebrar paradigmas e fazer diferente aquilo que era o comum, como por exemplo a professora Catarina Deschamps, que foi a primeira professora na primeira escola criada em São Pedro de Alcântara (SC), nomeada em 1887. Já a xará Catharina Hoffmann Mainchein, ao ficar viúva, precisou fazer e vender artesanato com ossos de animais – anéis, pulseiras e colares – e foi a primeira artesã da praça de São José.
Já Malvina Silva, era uma referência no artesanato em tecidos. Coordenava outras artesãs que confeccionaram toalhas de mesa, golas para vestidos e blusas, peças bordadas e flores artificiais. E foi com as flores que recebeu uma medalha de prata, classificada em segundo lugar na exposição que fez parte do centenário da abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, sendo a única mulher premiada.
Também artesã, mas usando o barro, a senhora Nésia Melo da Silveira introduziu em São José as peças de cerâmica representando as figuras do boi de mamão, da dança do pau de fita, a orquestra de sapos e o presépio de natal. Também na cerâmica, se destacou a dona Zenir Josefa de Souza, que desafiou os costumes da época, ao trabalhar em roda de oleiro, tendo que usar calças compridas para exercer a profissão e conquistar o respeito dos homens.
Um biquíni que era um escândalo

Desembargadora Thereza Grisólia Tang, primeira juíza da Comarca de São José e primeira mulher a presidir o TJSC (Foto TJSC/Reprodução)
Maura de Senna Pereira, foi a primeira mulher a escrever no jornal “O Josephense”, de São José, em 1926. Além disso, como poeta, também se tornou a primeira mulher a ocupar uma cadeira em academias de letras no país, na Academia Catarinense de Letras, assumindo, em 1930, a Cadeira 38, que tem como patrono o professor e escritor Roberto Trompowski Leitão de Almeida.
Também jornalista e apresentadora de tv, Marisa Andrade Ramos, estreou” na imprensa, aos 16 anos, provocando um escândalo: foi tomar banho de mar em Coqueiros, usando um traje de banho de duas peças, o popular “biquíni”, isso em 1958. Já na década de 1960, Marisa se tornou a primeira apresentadora de telejornal na TV Cultura, já extinta.
A primeira mulher a ser nomeada, em 28 de novembro de 1960, como tabeliã em São José foi a senhora Maria de Lourdes Bott Philippi, enquanto Otília Horn de Carvalho Bott abriu o mercado das agências bancárias em Santa Catarina, em 1930, para as mulheres.
Com uma história interessante de como conseguiu quebrar as barreiras masculinas para fazer o curso de Direito, Thereza Grisólia Tang, foi a primeira magistrada em São José e a primeira desembargadora no Estado, tendo assumido a presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina no biênio 1989-1990. No Brasil foi a segunda mulher a se tornar desembargadora.
E por fim, mas não menos importante, fica o destaque para a senhora Nilza de Souza, que concorreu e foi aprovada no concurso público para preencher o cargo de boleeiro da Prefeitura de São José. Para quem não está ligando o nome à pessoa, “boleeiro” é o mesmo que cocheiro e a dona Nilza fez a prova prática perante, ninguém menos, que o prefeito João Adalgísio Phillipi, que assistiu aos testes de condução de uma carroça, e foi aprovada, sendo nomeada como funcionária pública municipal.
O primeiro volume do livro “Algumas tantas mulheres de São José”, pelo seu conteúdo de informações e curiosidades, já abre o apetite para esperar o próximo tomo, que deve enfocar as mulheres josefenses que entraram em outro “Clube do Bolinha”, a política.
Aguardemos, então.