Participamos, no último final de semana, de dois momentos da programação do 30º Açor a Festa da Cultura Açoriana, em Biguaçu. Na noite de sábado, vimos a apresentação do Boi-de-Mamão Família Mello de Vila Nova, de Imbituba, seguido do Grupo Folclórico Ratoeira da Magia, de Florianópolis.
Também visitamos os estandes culturais , especialmente os da Casa dos Açores, com os trabalhos dos nossos amigos artesãos Osmarina e Paulo Villalva e do Paulo Andrés, filho do casal, que desenvolveu um game inspirado pelo universo divulgado por Franklin Cascaes, que são os mitos das bruxas, boitatá e outros elementais trazidos pelos açorianos na vinda para o povoamento do sul do Brasil, no século 18.
Estivemos no estande do Grupo Arcos, de Biguaçu, no lançamento do livro “Imagens Sacras”, de Catarina Maria Rüdiger, de que falarei oportunamente. Conversei com a autora e disse a ela que foi a capa do livro que despertou meu interesse. Trata-se da foto da escultura “Fuga para o Egito”, em exposição na Catedral de Florianópolis, e que mereceu algumas publicações aqui nesta página.
O boi e a baleia franca
A apresentação do Boi de Mamão Família Mello, de Imbituba, seguiu o roteiro normal, com a aparição do boi, sua “morte”, a chegada do doutor/curandeiro, e a ressurreição; depois o cavalinho, a cabra, o bode, o macaco; seguiu-se uma sucuri (novidade para mim), que o cantador disse ser venenosa; a bernunça e o casa da Maricota e do seu Valdemar.
O grupo musical deu por encerrada a apresentação, mas os componentes da comunidade,, através de sinais de mímica, lembraram que tinha mais um animal e entrou a “baleia franca” (outra novidade), que tinha um dispositivo que esguicha água, imitando o balenídeo, que costuma aparecer no litoral catarinense, especialmente em Imbituba.
Encontro das bandeiras
No domingo de manhã realizei uma vontade antiga: conhecer o interior da Igreja dedicada a São Miguel, onde começou o povoamento que deu origem à atual cidade de Biguaçu. Eu já tinha pesquisado sobre o templo – destacando os sinos presenteados por D. Pedro II, em 1845 -, mas ainda não conhecia a nave, com seus altares.
Assisti à missa solene em que houve o encontro das Bandeiras do Divino das cidades que participavam do 30º Açor. O ritual normal da missa tem algumas modificações para a entrada das bandeiras, após o celebrante e no ofertório foram oferecidas uma toalha de renda, uma cesta de alimentos da agricultura familiar e uma rede de pesca.
Após a missa, houve a decoração e o cortejo transportando o mastro de São Sebastião, que foi erguido em frente ao Museu Etnográfico Casa dos Açores, que faz parte do cenário arquitetônico tombado da Vila de São Miguel Arcanjo da Terra Firme.
Eu não conhecia a história do “mastro de São Sebastião” e ouvi o locutor da festa , no sábado à noite, falar alguma coisa para as mulheres que quisessem se casar, “não perder a oportunidade”
O ritual do mastro de São Sebastião chegou ao Brasil no século 18 e a tradição foi mantida no município de Penha, litoral do norte catarinense, e normalmente é realizada no mês de janeiro, com a escolha e corte da madeira. O tronco é enfeitado com flores e ramos verdes, depois é conduzido por homens, que fincam o mastro e hasteiam a bandeira do santo.
Após isso o povo reza e bate palmas, andando em volta do mastro. Sobre as casadoiras, diz a lenda que folhas e flores retiradas do mastro, garantem bom casamento. Eu posso ter contribuído para alguém se casar, pois coloquei um broto de cravo na decoração.
O Açor
A Festa da Cultura Açoriana é realizada anualmente em localidades catarinenses que tiveram origem na imiograçãod de casais açorianos, a partir do ano de 1748. A iniciativa é do Núcleo de Estudos Açorianos, da Universidade Federal de Santa Catarina, com a Casa dos Açores de Santa Catarina, Consulado de Portugal e com as pefeituras das cidades que sediam o evento.
Vamos aguardar o próximo ano e, se possível, participar de mais uma festa açoriana.