Ontem, 15 de novembro, a República brasileira completou 135 anos de proclamação do regime comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca.
Muito antes daquele golpe, no dia 29 de julho de 1839, em Santa Catarina, a Câmara Municipal de Laguna proclamou a República Catarinense Livre e Independente, popularmente conhecida como República Juliana, essa tentativa de mudar o regime de governo durou apenas quatro meses.
Foi no contexto da proclamação da República Juliana que surgiu a figura de Anita Garibaldi. Moradora de Laguna (SC), Anita se apaixonou pelo revolucionário Giuseppe Garibaldi, o líder da tropa que invadiu a cidade e alguns dias depois ela partiu com o companheiro para inúmeras batalhas no Brasil, Uruguai, França e na Itália.
Anita Garibaldi tornou-se um símbolo de heroísmo, lealdade e dedicação, tendo lutado ao lado do marido em inúmeras batalhas, tendo sido presa logo depois de ter dado à luz ao primeiro filho. Conta da história que ela – mesmo “de resguardo”, despistou os guardas e fugiu a cavalo levando o recém-nascido nos braços.
Homenagem móvel
Nas comemorações do bicentenário de nascimento de Anita Garibaldi, em 2021, tive a oportunidade de visitar exposições sobre a heroína, além de ler sobre os monumentos que a homenageiam em várias cidades, tendo visitado pessoalmente alguns no Estado.
Citei acima o episódio da fuga que Anita empreendeu ainda no puerpério, montada a cavalo. A cena foi imortalizada em bronze e colocada na base da herma que foi erguida em homenagem a ela na praça da Estação, em Belo Horizonte (MG), no ano de 1913. Mas a sociedade da época entendeu que o comportamento de Anita “não condizia com a moral e com os bons costumes” e o monumento foi removido para uma das entradas do Parque Municipal da cidade.
Devido a obras que reconfiguraram o entorno do parque, a estátua precisou ser removida mais uma vez. Desta vez uma ilha existente em uma das lagoas foi remodelada e passou a abrigar definitivamente o busto de Anita Garibaldi. O local se chama Ilha dos Amores e tem uma charmosa ponte em arco para permitir o acesso.
Sem descanso
Anita Garibaldi, que durante a vida não teve descanso, acompanhando o marido em diversas batalhas, depois de morta continuou sem sossego. Se um simples busto em bronze andou bastante, o corpo físico dela também vagou e foi enterrado sete vezes na Itália:
1. O primeiro sepultamento, em cova rasa, aconteceu no Mote Della Pastorara, nas imediações da Fazenda Guiccioli di Mandriole, onde morreu , no dia 4 de agosto de 1849; 2. Passados sete dias, o corpo foi transferido em outra cova simples, no Cemitério de Santo Alberto em Mandriole; 3. Dez anos depois amigos de Garibaldi, temendo que a sepultura fosse violada, sequestraram os restos mortais de Anita; 4. O padre, responsável pela igreja de Santo Alberto, em Mandriole, conseguiu recuperar o corpo e o enterrou no interior da igreja, perto do altar.
Quando Garibaldi retornou à Itália em 1859, depois do exílio, a primeira providência que adotou foi exumar os despojos de Anita da igreja de Mandriole e levá-los – em cortejo – para sepultar em Nizze (atual Nice, na França). Chegamos ao quinto sepultamento.
A heroína ainda seria removida outras duas vezes antes do famoso “descanso eterno”. Em 1931, a pedido do então ditador italiano Benito Mussolini, o corpo de Anita foi trasladado para Roma, como o monumento não ficou pronto, o enterro se deu provisoriamente em Gênova. Finalmente, em 1932, Anita foi definitivamente sepultada no monte Gianicolo, em Roma, junto com os restos mortais de Giuseppe Garibaldi.
[Crônica CLXVIII/2024]