Acordei no hospital com os braços e as pernas imobilizados com correias, como fazem com os surtados. Senti que minha cabeça doía e que estava enfaixada. Gritei por alguém e apareceu uma enfermeira que sorriu e disse: “Enfim o senhor acordou.”
Quis saber onde eu estava e o que fazia ali. Ela só respondeu que era uma casa de repouso, que o médico viria me ver em pouco tempo e que eu me acalmasse. Depois me aplicou uma injeção e fiquei grogue, mas foi possível fazer um esforço para lembrar do que aconteceu e porque eu estava amarrado naquela cama.
O monitor do meu computador é grande, e eu o uso também para assistir filmes, já que tem uma boa resolução. Quando voltei de uma curta viagem, e fui assistir ao jornal para me atualizar, o aparelho não ligou. Isso é, ligou e logo na tela apareceram uns tons de vermelho e depois tudo ficou preto.
Fiquei preocupado, pois tinha um trabalho para entregar. Entrei em contato com a assistência técnica, expliquei o meu problema e eles se prontificaram a emprestar um monitor enquanto verificavam e consertavam o meu.
Com o monitor emprestado instalado, comecei a trabalhar e não vi a hora passar. Quando olhei para o relógio já passavam das 23 horas. Deixei o computador no modo de espera, apaguei a luz da sala, fui tomar um banho relaxante e comer alguma coisa, pois desde que cheguei da viagem não havia parado.
Da cozinha ouvi um ruído que atribuí ao microondas, onde aquecia alguns alimentos que encontrei na geladeira e fiz um “mexidão”. Retirei o prato do forninho, e continuei ouvindo o ruído. Parecia um zumbido de abelhas ou um murmúrio de uma pessoa distante.
A fome era maior que a curiosidade e só depois de comer e lavar a louça é que fui verificar o que provocava o estranho barulho.
Ao chegar à sala, parei na porta. Ainda ouvia o zumbido, mas as coisas estavam como deixei. Me sentei na frente do computador para concluir o meu trabalho, e ao tocar nas teclas senti que uma coisa viscosa, pegajenta, colava nos meus dedos. Mesmo no escuro vi o líquido gelatinoso transparente – lembrei da gosma que sai da boca do Alien – escorria do monitor.
Foi nessa hora que a tela acendeu sozinha e surgiu uma cara medonha, que não sei descrever, que me disse: “Vim te buscar!”
Empurrei a cadeira para trás e não sei mais de nada. Nem sei se morri.
Não sei como vim parar aqui, mas já sei o que provocou.
[Crônica CLI/2024]