
A Loira do Banheiro surgiu na festa do halloween. A foto ficou tremida por motivos óbvios (Foto Jessica Matos)
A ação de marketing da academia queria atrair novos alunos e fidelizar os antigos. Aproveitando a época, foi bolado um “Aulão do Dia das Bruxas”, que seria na noite do dia 31 de outubro, a partir das 22h. Toda a academia recebeu a decoração apropriada, com morcegos, aranhas, baratas e ratos espalhados nos ambientes.
Foram previstos prêmios (reais e de brincadeira) para as fantasias mais originais:
3º lugar: passeio no trem-fantasma do parque e isenção da taxa de matrícula para novos alunos, desconto na mensalidade para aluno veterano; 2ª lugar: passar duas horas em uma casa mal-assombrada e isenção da taxa de matrícula para novos alunos, desconto na mensalidade; 1° lugar: visita ao cemitério no Dia de Finados, à meia noite, e isenção da taxa de matrícula, e uma mensalidade grátis.
Naquela noite muita gente apareceu na academia, e tinha de tudo. Um palhaço do “It” na cadeira extensora, o Freddy Krueger no leg press, o peck deck era disputado por duas Rainhas Más de Cinderela (uma a Malévola da Angelina Jolie, a outra a madrasta na versão Disney), nos halteres estavam o Esqueleto, do He-Man, e o Incrível Hulk.
Nos intervalos de descanso, se comentavam e justificavam as fantasias: “Eu vinha de múmia, ia me enrolar com faixas de atadura, mas olhei o preço do rolo de atadura e desisti, menina!” “Pois essa minha fantasia de bruxa já é antiga. Eu a tenho desde antes da pandemia. É a única roupa velha que eu uso sem dar bandeira”
Duas alunas esperavam na fila do banheiro e falavam sobre assombrações. Uma delas contou que quando estudava à noite, só ia ao toalete se tivesse companhia. “Por quê?” perguntou a amiga. “Diziam que a Loira do Banheiro aparecia lá…” “Ah! Eu soube que ela só aparece se você a invocar”. “Como?”, quis saber a medrosa. “Diz-que você bate assim na parede do banheiro (e deu três pancadinhas na parede) e diz: ‘Apareça Loira do Banheiro’, e ela aparece para você. Se não fizer isso, não tem perigo!”
Próximo da meia-noite, a dona da academia chamou todos para a escolha das fantasias e entrega dos prêmios. O “palmômetro” é que decidiria a fantasia ganhadora.
Depois de todos fantasiados terem se apresentado, começou a discussão para saber quem eram os finalistas, quando lá do fundo da academia veio uma mulher – nem alta, nem baixa – vestida de branco, com os cabelos aloirados molhados. No silêncio que se fez, ouviu-se ela dizer: “Sou a Loira do Banheiro, quem me chamou?”
Até hoje tem gente correndo. Naquela noite a academia ficou com as portas abertas, e só não houve furto por que os ladrões souberam da história.
[Crônica CXLIX/2024]