Nas minhas “leituras aleatórias”, como a Marcela as chama, encontrei uma histórinha bem simpática de uma professora de gramática, da cidade paranaense de Cianorte, que viu e reconheceu a qualidade dos desenhos feitos por um aluno dela.
São desenhos da cultura japonesa – mangás ou animes – muito realistas e feitos à mão livre com lápis de cor. Miguel, cuja idade não foi informada (e nem eu achei), “nas redes sociais, ele se identifica como asperger, enquadrado no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Pessoas com esse diagnóstico costumam ter altas habilidades específicas!”, informa o texto do portal Só Notícia Boa.
A história do Miguel me levou à uma lembrança. Quando eu era criança, meu pai gostava de ler HQs e comprava mensalmente revistas do Tarzan e do Fantasma (aquele um do collant lilás e cueca listrada de amarelo e preto). Quando as revistas davam sopa, eu as lia e até imaginava aventuras nas selvas africanas, onde os dois heróis atuavam.
Um dia fui levado por minha professora à sala da diretora. O meu caderno foi confiscado como evidência. Eu – inocente, puro e besta – não entendi o que havia feito. No inquérito, antes de ser interrogado, vi a professora mostrar o caderno aberto em determinada página e apontar para mim. Depois ela saiu da sala.
E eu sem saber o que estava acontecendo.
A diretora mandou que sentasse em uma cadeira em frente a ela e explicasse aquele desenho, pois a minha coleguinha de carteira havia reclamado à professora que eu fiz um desenho indecente e mostrei para ela.
Olhei para o “desenho” (devo ter franzido a testa) e disse: É o Tarzan!
– Mas o que é isso aqui? Perguntou a diretora apontando para a região dos países baixos do herói.
– Uai! É a tanga dele. O Tarzan usa tanga, ele mora na floresta e não tem roupa, mora com os macacos…
A diretora começou a rir. Devolveu meu caderno e mandou que eu voltasse para a sala de aula.
Se hoje, com 68 anos, não desenho nem com um gabarito, imaginem se quando eu tinha sete anos conseguiria fazer um desenho obsceno? Até porque nem sabia o que era isso!
[Crônica CXLVII/2024]