17 de outubro de 2024

Atentados escatológicos

Por José Carlos Sá

Fonte ou mictório? Essa era a questão levantada por Duchamps. Agora encontraram outro uso (Foto Micha L. Rieser, 2008/Reprodução)

Em 1917, usando o pseudônimo R. Mutt, o artista plástico francês Marcel Duchamps inscreveu uma obra chamada “Fonte” em um concurso de artes promovido pela Society of Independent Artists of New York. 

O trabalho foi rejeitado por se tratar de um mictório individual de porcelana, desse que a gente vê nos banheiros masculinos. O júri considerou um desrespeito, no entanto o artista explicou que a peça sanitária foi apresentada invertida, isso é. Mudou de função, deixando de ser um lugar de verter, para ser onde se bebe água !

Essa introdução cultural é para comentar que eu soube de um atentado escatológico ocorrido em uma empresa, perto de casa, onde subverteram o uso dos mictórios.

Igual aos incêndios “simultâneos” que ocorreram em todo o Brasil em agosto passado, o pessoal da limpeza da matriz e da filial – distantes entre si 450 quilômetros – encontraram os mictórios sujos de dejetos. Os infelizes ignoraram os vasos sanitários.

Há suspeita de ação combinada, mas não se sabe em protesto a quê.

A vingança do estagiário

No período em que trabalhei na Rede Ferroviária Federal (1981-1983) houve um atentado escatológico que abalou a empresa. Certa segunda-feira, logo no  começo do expediente, ouviu-se uma confusão, muita gente falando no corredor e saímos da nossa sala para ver o que era.

A secretária de um dos diretores da “Rede” encontrou um pacote fecal sobre a mesa dela. O autor não se deu ao trabalho de afastar pastas de documentos, ofícios assinados ou rascunhados, fotografias dos filhos e dos cachorros, nada. Ficou tudo sujo.

O principal suspeito foi um estagiário dispensado, na sexta-feira anterior, aos gritos pela secretária vítima do atentado. Ouvi gente sussurrando um “bem feito”.

Maçanetas emporcalhadas

Para encerrar essa crônica, lembrei de um fato ocorrido em 1987, na pacata cidade de Cerejeiras, no sul do Estado de Rondônia (800 quilômetros da capital Porto Velho).

Após uma sessão em que os vereadores votaram e aprovaram um aumento para os próprios salários, os edis encontraram as maçanetas dos seus carros sujas de fezes e não escapou nem a moto de um dos legisladores-mirins, cujos guidões também foram emporcalhados de *erda.

(Desculpem, leitores)

[Crônica CXLVI/2024]

Tags

Câmara Municipal de Cerejeiras Minas Gerais Nova Iorque Rondônia Santa Catarina 

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