11 de outubro de 2024

Batman no Edifício Acaiaca

Por José Carlos Sá

O imponente Edifício Acaiaca, em foto do Portal Oficial de Belo Horizonte (PMBH)

No centro de Belo Horizonte, na avenida principal – a Afonso Pena – existe um prédio antigo, de 30 andares, com quem tenho ligações afetivas, se posso chamar assim. Nos andares 23, 24 e 25, funcionava a TV Itacolomi, uma das emissoras pioneiras no Brasil, fundada em 1955, e onde eu ia quando criança participar do programa infantil da Tia Dulce. Subia de elevador até o 25º andar e descia pelas escadas, pois os estúdios ficavam no 24º andar.

No térreo funcionava o Cine Acaiaca, que passei a frequentar na adolescência, quando fui funcionário dos Correios e deixei de trabalhar na entrega de correspondências. A minha jornada terminava às 13 horas, eu comia qualquer coisa e ia ao cinema, fazendo rodízio entre as salas de exibição do centro da cidade.  

Uma outra coisa que atraía minha atenção no prédio são as duas esfinges de um índio carrancudo, que eu imaginava fosse da tribo “Acaiaca”. Esse é o motivo dessa crônica, mas primeiro vou apresentar o edifício.

Quase bunker na guerra

Abrigo antiaéreo existenet no porão do prédio (Frame de imagens de Frederico D’Ávila/TV Globo/G1-MG/Reprodução)

O Edifício Acaiaca foi construído durante a II Guerra Mundial, foi projetado em 1943 e concluído em 1947. Como o clima era de conflito, se Belo Horizonte fosse bombardeada, alguns privilegiados podiam contar com um abrigo antiaéreo no porão do prédio. Mineiro é um povo prevenido!

Planta do bunker (Frame de imagens de Frederico D’Ávila/TV Globo/G1-MG/Reprodução)

A construção foi considerada na época o maior arranha-céu do Brasil, com 120 metros de altura, mas o título foi perdido, no mesmo ano da inauguração, para um prédio construído em São Paulo que chegava aos 161 metros.

Hoje o prédio é ocupado por um restaurante panorâmico no 26º andar, e os demais pavimentos por escritórios de advogados e consultórios de dentistas. O local onde funcionava o Cine Acaiaca é ocupado por uma igreja evangélica.

O índio

Detalhe de um dos ícones do Edificio Acaiaca (Foto Arquivo EM/Reprodução)

As esfinges do índio instaladas na fachada do prédio, segundo os historiadores, “documentam o sentimento nacionalista daquele período”, em que o Brasil estava em guerra. Elas foram projetadas pelo artífice português José Bahia e executadas pelo arquiteto Luiz Pinto Coelho, que assina o projeto do edifício. Ele esculpiu uma das cabeças e teve que viajar, encarregando o mestre de obras de fazer a outra esfinge exatamente igual à primeira. 

Na época, os belo-horizontinos acharam os índios parecidos com gangsteres norte-americanos e as esculturas foram modificadas.

Eu acreditava que o nome do edifício homenageava uma tribo e adotei isso como verdade e nunca pensei em outra coisa, já que no centro de Belo Horizonte existem várias ruas com nomes de povos originais. 

“Guaicurus, Caetés, Goitacazes, Tupinambás, Aimorés. / Todos no chão. Guajajaras, Tamoios, Tapuias / Todos Timbiras, Tupis, / Todos no chão “. Assim começa a música “Ruas da cidades”, de Márcio e Lô Borges, gravada pelo Milton Nascimento.

Só agora, pesquisando para este texto, é que saí da ignorância. Diz-se que um povo indígena, os botocudos, que vivia nas proximidades do Arraial do Tijuco, atual Diamantina, venerava um cedro chamado acaiaca. Eles acreditavam que no começo do mundo o rio Jequitinhonha transbordou, inundando toda a região. Só um casal sobreviveu à enchente, subindo na árvore.

Tanto o construtor do edifício, Redelvim Andrade, quanto o arquiteto responsável pelo projeto, Luiz Pinto Coelho, eram naturais de Diamantina, daí a explicação para o nome.

E que tem o Batman a ver com isso?

Nada, acho.

A obra do Joe Palmer à esquerda. Eu fiz a montagem com desenho técnico modificado de Zema Vieira (JCarlos)

Eu vi um desenho do artista plástico e cartunista inglês Joe Palmer, com o Batman sobre uma gárgula e imaginei o meu herói favorito patrulhando as ruas de Belo Horizonte à espreita sobre a cabeça de um dos índios do Edifício Acaiaca.

Deu trabalho substituir a gárgula do Joe Palmer pela efígie do José Bahia…

[Crônica CXLII/2024]

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Batman Belo Horizonte Edifício Acaiaca Joe Palmer TV Itacolomi 

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