Parece que não tem como fugir de conversas cujo assunto é política, especialmente agora que ainda estamos em período eleitoral, mesmo que moremos em cidades onde não haverá segundo turno.
Os veículos de imprensa nacionais estão sediados no eixo Brasília – São Paulo – Rio de Janeiro e de lá irradiam o que acontece nesses centros para o país, que acompanha tudo como se estivessem no nosso quintal. Daí, não tem como ignorar os fatos.
A polarização, que sempre ditou os comportamentos políticos no Brasil, ficou pior agora quando os pólos opostos – bolsonaristas e lulistas – se digladiam (de preferência) na porrada física. Por isso, as conversas sobre o tema precisam ser cuidadosas para não melindrar ninguém à direita ou à esquerda.
Numa dessas conversas sobre eleições para prefeito na cidade onde não moramos nem votamos, ouvi uma declaração de voto ao candidato Guilherme Boulos (PSOL-SP) “Se eu votasse em São Paulo, votaria nele [Boulos] contra o atual [Ricardo Nunes, MDB-SP]!”. Minha resposta foi – impensadamente – “E eu anularia meu voto!”
Felizmente a pessoa com quem eu estava dialogando respeita a opinião alheia, senão ia dar briga.
Não ensinavam anular
Em uma das primeiras edições da Ação Global, promovida pela Rede Globo de Televisão e Sesi, em Porto Velho, lá pelo final da década de 1990, o TRE-RO (Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia) levou uma urna eletrônica, recém-lançada e em fase de testes, para fazer a demonstração pública.
Era possível simular o voto, tendo como candidatos vários escritores brasileiros. Lembro-me apenas de Machado de Assis, Monteiro Lobato (votei nele) e Euclides da Cunha. Depois de ver como funcionava a máquina, perguntei ao funcionário como fazia para anular o voto.
Ele ficou um momento em silêncio, pensou e respondeu que não se deve anular o voto, que fazer isso é abrir mão de escolher alguém para representá-lo, que é se omitir de participar do destino do país, e recitou uma série de argumentos. Como eu vi que ele não ia ensinar mesmo votar nulo, desisti e fui embora.
Comentando esse assunto com uma colega, ela deu a dica em poucas palavras: “Digita um número errado e confirma”. Pronto, aprendi.
Mas eu tenho consciência, e só uso essa alternativa quando entre os candidatos não encontro nem um com quem eu tenha convergência. Foram poucas vezes que anulei o meu voto e, se eu votasse em São Paulo no segundo turno, seria essa a minha opção.
[Crônica CXL/2024]