Conheço pessoas que não têm dificuldades para dormir e também conheço pessoas que não conseguem acordar. Não conseguem porque querem passar mais uns minutinhos na cama e esticar o sonho.
Eu dificilmente perco a hora de levantar, mas não tenho despertador, pois o alarme do meu celular não funciona nem com velas e rezas para São Boomer (canonizei agora. É o protetor daqueles que não sabem mexer no smartphone). Acordo no susto, ou muito cedo ou em cima da hora.
Entre aqueles que sofrem para pular da cama assim que o relógio de cabeceira soa o alarme, ouvi uma história interessante.
O cara tem cinco despertadores que são sincronizados de forma que cada um toque a campainha a cada cinco minutos. Ele disse que o método é cansativo, mas eficaz.
– Quando o primeiro despertador toca, eu desligo o alarme e viro para outro lado. Daí a pouco o segundo despertador dispara e eu também desarmo a campainha, dando um cochilo. Aí o terceiro toca e eu o procuro para desligar. Se não o encontro, o relógio segue tocando e eu cubro minha cabeça com o travesseiro. Mas quando o quarto despertado faz o barulhinho irritante, eu vejo que não tem jeito, preciso me levantar. Então espero o último despertador soar, para não deixar o aparelho sem serventia.
Perguntei se ele não perde os compromissos. Riu e respondeu apenas: “Quase sempre!”
Pinchando o despertador na parede
O outro caso de pessoa difícil de sair dos braços de Morfeu ouvi da mãe dele. “Para tirar o Clóvis Eustáquio da cama para ir para a escola só faltava jogar água (eu nunca fiz, mas o meu marido jogava). Era uma dificuldade. A gente balançava ele, gritava, fazia cócegas, nada funcionava”.
Ela contou que em um passeio à Bolívia entrou em uma loja de bugigangas e viu um despertador modelo antigo, daqueles grandes, com dois sinos em cima. Pediu ao vendedor para mostrar o funcionamento e gostou do barulho que o relógio fazia. “Duvido que o sono do ‘Taquinho’ vai resistir a essa barulheira”, pensou.
Na segunda-feira, dia da estreia do despertador boliviano, ela ficou na cozinha preparando o café da família, aguardando o que aconteceria quando o mecanismo começasse a funcionar. De onde estava ouviu a campainha estridente tocar. Não teve nem tempo de sorrir. O barulho seguinte foi de uma pancada na parede, seguido de som de vidro quebrado e de metais se espalhando no chão.
Minha informante correu para o quarto do filho e o encontro sentado na cama, de cara amarrada. No chão, perto da parede, do outro lado do quarto, o despertador novo aos pedaços. O ‘Taquinho’ ficou irritado com o barulho para acordá-lo e se vingou jogando o despertador na parede.
Clóvis Eustáquio continuou chegando atrasado na escola por excesso de sono.
[Crônica CXXXIX/2024]