Imagine a cena. Uma barbearia tradicional, em uma rua tranquila de um bairro pacato. O barbeiro retoca o serviço na cabeleira de um cliente, enquanto um casal aguarda. Ele, um taxista que fez um intervalo em suas corridas para cortar o cabelo e aparar a barba, e a mulher dele, grávida de seis meses, aguarda o marido lendo uma revista de moda para recém-nascidos. Um outro barbeiro atende a um cliente na cadeira ao fundo.
São 13h20 e chega mais um cliente. Ele cumprimenta os presentes e se dirige ao barbeiro mais perto da porta.
– Boa tarde. Eu quero cortar o cabelo e estou com uma certa pressa.
– Boa tarde. O senhor poderia voltar mais tarde? Estou terminando de atender esse cliente e tem mais aquele outro ali aguardando. E, em seguida, vou fechar a barbearia para ir almoçar.
– Eu estou com pressa, não posso esperar. Quero cortar o cabelo agora!
O barbeiro não concordou, pois o homem que esperava já era seu cliente antigo e o apressado nunca tinha entrado na barbearia.
– O senhor desculpe, mas terá que voltar mais tarde.
– Não vou esperar nada! Então sacou uma pistola e fez um disparo em direção ao barbeiro, que foi atingido na cabeça.
O casal tentou fugir para fora da barbearia, ao mesmo tempo que o assassino, e os três se embolaram na porta. Tanto o homem quanto a mulher receberam tiros nas respectivas cabeças, deixando o caminho livre para o atirador fugir.
O caso aconteceu quarta-feira (02/10) em um bairro antigo de Lisboa e chocou a todos pela futilidade que motivou o crime.
Quando li a chamada da notícia em um jornal portugues (“Matou 3 pessoas porque não cortou o cabelo”), lembrei de um crime cometido em 1957 pela máfia em Nova Iorque, quando um “capo” foi morto na barbearia do Park Sheraton Hotel. Era o gangster Umberto ‘Albert’ Anastasia, o “Chapeleiro Louco” ou “Senhor Executor”, fundador da Cia. de Assassinos (Murder, Inc.) e da Cosa Nostra Americana. Gente boa.
Por isso, quando estou sentado numa cadeira numa barbearia, presto mais atenção aos espelhos que ao serviço que fazem na minha cabeça, vai que…
[Crônica CXXXVI/2024, baseada na primeira versão divulgada pela polícia sobre o crime]