03 de outubro de 2024

Um crime brutal e fútil

Por José Carlos Sá

Barbearia Granda Pente, onde aconteceram as mortes (Foto Pedro Santos/Agência Lusa)

Imagine a cena. Uma barbearia tradicional, em uma rua tranquila de um bairro pacato. O barbeiro retoca o serviço na cabeleira de um cliente, enquanto um casal aguarda. Ele, um taxista que fez um intervalo em suas corridas para cortar o cabelo e aparar a barba, e a mulher dele, grávida de seis meses, aguarda o marido lendo uma revista de moda para recém-nascidos. Um outro barbeiro atende a um cliente na cadeira ao fundo.

São 13h20 e chega mais um cliente. Ele cumprimenta os presentes e se dirige ao barbeiro mais perto da porta.

– Boa tarde. Eu quero cortar o cabelo e estou com uma certa pressa.

– Boa tarde. O senhor poderia voltar mais tarde? Estou terminando de atender esse cliente e tem mais aquele outro ali aguardando. E, em seguida, vou fechar a barbearia para ir almoçar.

– Eu estou com pressa, não posso esperar. Quero cortar o cabelo agora!

O barbeiro não concordou, pois o homem que esperava já era seu cliente antigo e o apressado nunca tinha entrado na barbearia.

– O senhor desculpe, mas terá que voltar mais tarde. 

– Não vou esperar nada! Então sacou uma pistola e fez um disparo em direção ao barbeiro, que foi atingido na cabeça. 

O casal tentou fugir para fora da barbearia, ao mesmo tempo que o assassino, e os três se embolaram na porta. Tanto o homem quanto a mulher receberam tiros nas respectivas cabeças, deixando o caminho livre para o atirador fugir.

O caso aconteceu quarta-feira (02/10) em um bairro antigo de Lisboa e chocou a todos pela futilidade que motivou o crime. 

Corpo de Anastasia em uma barbearia de Nova Iorque. Foi morto pela Máfia em 25 de outubro de 1957 (Foto NY Daily News/Reprodução)

Quando li a chamada da notícia em um jornal portugues (“Matou 3 pessoas porque não cortou o cabelo”), lembrei de um crime cometido em 1957 pela máfia em Nova Iorque, quando um “capo” foi morto na barbearia do Park Sheraton Hotel. Era o gangster Umberto ‘Albert’ Anastasia, o “Chapeleiro Louco” ou “Senhor Executor”, fundador da Cia. de Assassinos (Murder, Inc.) e da Cosa Nostra Americana. Gente boa.

Por isso, quando estou sentado numa cadeira numa barbearia, presto mais atenção aos espelhos que ao serviço que fazem na minha cabeça, vai que…

[Crônica CXXXVI/2024, baseada na primeira versão divulgada pela polícia sobre o crime]

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Albert Anastasia Cosa Nostra Americana Lisboa Máfia Murder Inc. Portugal 

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