A Folha de S. Paulo de hoje traz, na coluna da jornalista Mônica Bergamo, uma nota informando que o Conselho Nacional de Direitos Humanos, vinculado ao Ministério de mesmo nome, está levantando recursos para prosseguir as investigações sobre o aumento das células nazistas no país.
Membros do Conselho já realizaram missões em Santa Catarina e Rio de Janeiro e pretendem visitar outros estados, onde haja denúncias da existência de organizações neonazistas.
Há alguns dias terminei de ler “O punhal do nazismo no coração do Brasil” (Imprensa Oficial do Governo de Santa Catarina, Florianópolis, 1943), que é um relatório da DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social de Santa Catarina), assinado pelos delegados capitão Antônio de Lara Ribas (“O nazismo em Santa Catarina”) e por João Kuehne (“O integralismo nazi-facista em Santa Catarina”) publicado em formato de livro. Quem governava o Estado na época era Nereu Ramos, nomeado interventor por Getúlio Vargas.
O Brasil declarou guerra à Alemanha, Itália e Japão em agosto de 1942 e esses relatórios demonstram como foram desmontadas – naquela época – as estruturas do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP, na sigla em alemão), que também era conhecido como partido nazista e foi fundado por Adolf Hitler. Nas regiões colonizadas por alemães no Brasil, havia toda uma estrutura partidária que se reportava à Alemanha.
Durante a Segunda Guerra Mundial as colônias de imigrantes alemães, italianos, japoneses, entre outras nacionalidades, foram vigiadas de perto pelo governo de Getúlio Vargas, que construiu vários campos de concentração no Brasil.
Já o movimento Ação Integralista Brasileiro, fundado pelo escritor e jornalista Plínio Salgado, era inspirado nos movimentos populares europeus, especialmente aqueles ligados ao ditador italiano Benito Mussolini (fascismo) e ao nazismo de Hitler.
Em Santa Catarina, havia imigrantes e descendentes de alemães que participaram dos dois movimentos, tanto do nazismo, como do integralismo, junto com brasileiros. No entanto, os brasileiros não podiam participar do movimento nazista, que os via como de “raça impura”.
Voltando ao começo, a nota da coluna da Mônica Bergamo ressalta a justificativa do Conselho de Direitos Humanos na busca em aumentar o enfrentamento ao neonazismo, por existir “alarmante cenário de crescimento” desses grupos no país, “com aumento do discurso de ódio especialmente direcionado às mulheres, à população negra e à população LGBTQIAP+”.
A história demonstra que o que já deu errado no passado tem uma chance grande de continuar errado no presente, já que não há mudança no resultado naquilo que continua sendo feito da mesma maneira.
O nazismo foi, é e continuará sendo um mal para a humanidade. Não tenho dúvidas disso.
[Crônica CXXXVI/2024]