27 de setembro de 2024

Curvas e pirambeiras

Por José Carlos Sá

As 284 curvas da estrada da Serra do Rio do Rastro são de dar medo (Foto JCarlos)


Estou em São Joaquim, na serra catarinense, onde participo de um evento neste final de semana. Vim de ônibus para ficar tranquilo e poder olhar a paisagem.

Como viemos pela BR-101, em Tubarão, nem notei que o ônibus pegou a SC-390. E, distraído, só me dei conta por onde passaríamos quando vi a placa anunciando a cidade de Lauro Müller, “Berço do carvão nacional”.

Íamos subir os oito quilômetros e nos espremer pelas 1.284 curvas da famosa Estrada da Serra do Rio do Rastro (O “mil” à esquerda do número, é por minha conta!).

Minha poltrona era do lado esquerdo e eu via pela janela apenas uma parede de pedras e mato. Do lado oposto, era possível ver todo o vale de onde vínhamos. Pensei que estava bom assim.

Em uma das curvas, fiquei de frente para a pirambeira, vendo um buraco fundo ao ladinho do ônibus. Parecia que a roda estava no vazio. É uma sensação muito ruim.

Quando desembarquei perguntei ao motorista quanto tempo demorou a subida. “Foi ‘meiorinha’, hoje o tempo está bom, não tá chovendo nem a estrada está congelada.” Agradeci e me benzi.

Nos Andes

A experiência de hoje me lembrou da viagem da Caravana da Integração Brasil-Bolívia-Chile-Peru, da qual participei em 1995.

Tivemos que subir e descer duas vezes as estradas sinuosas e perigosas da Cordilheira dos Andes daqueles países. Eu fazia parte do grupo que viajava em um ônibus que não era adequado para aquele tipo de estrada.

No trecho em que subíamos a cordilheira, indo de Riberalta, na planície amazônica para La Paz, no altiplano, um professor boliviano nos acompanhava como guia.

Perguntei a ele se naquela estrada aconteciam muitos acidentes com ônibus.
– Si, murchos.
– Com mortos?
– No siempre. En el último murieron diecisiete personas.
– E quantas estavam no ônibus?
– Veinte.
Mudei de assunto.

[Crônica CXXXV/2024]