Há alguns dias vi uma notícia (e descartei o e-mail) de que na cidade indiana de Saran um adolescente de 15 anos morreu após uma cirurgia mal sucedida para a retirada de pedra na vesícula biliar. O paciente foi levado ao hospital pelos pais por apresentar um quadro de náuseas e vômitos intensos.
Sem que a família tivesse consentido, o médico Ajit Kumar Puri iniciou uma cirurgia realizando os procedimentos operatórios acompanhando um tutorial exibido na plataforma de vídeos online YouTube. “Quando o paciente começou a apresentar sinais de alerta, o ‘autointitulado’ médico chamou uma ambulância e fugiu”, informa o jornal Hindustan Times.
Claro que deu *erda e o adolescente morreu. Descobriram que Ajit não é médico coisa nenhuma. A polícia registrou um FIR (nome do B. O. na Índia) e o procura para prendê-lo.
Medicina de ontem
Busquei essa notícia na lixeira da minha caixa postal de e-mails, pois recebi de dois amigos – Flávio Gonçalves e Normando Lira -, quase simultaneamente, um vídeo publicado no Instagram, em que um homem idoso, identificado como médico e com idade superior aos 100 anos de idade, fala da sua experiência. Ainda não consegui saber o nome dele.
Transcrevo a seguir o que o doutor falou sobre como praticava a Medicina há alguns anos: “(…) Nem aqui, nem em outro lugar existia ultrassom, nem eletrocardiograma, nada. Tinha que usar os sentidos. Tinha que olhar, apalpar, ouvir, cheirar… Tem doença que tem cheiro próprio. O urêmico, o sujeito que está com retenção de urina, que o rim está filtrando mal, fica com cheiro de urina. É um dado, né? O diabético tem cheiro de maçã. Tudo ajuda, e a vista é que ajuda mais. O hepático, que tem derramamento de bile, você vê pela pele.”
É ruim mas é bom
Eu já fui ao médico, consultá-lo sobre algum mal que me afligia, e enquanto eu falava ele consultava o Dr. Google, que também sugeriu o que deveria ser prescrito. Acredito que milhares de outras pessoas já tiveram essa mesma (triste) experiência.
Reconheço a utilidade incontestável da internet na nossa vida, nas pesquisas e na troca de informações, mas realizar uma cirurgia acompanhando um tutorial, aí já é apelar para o total falta de bom senso.
[Crônica CXXVII/2024]