De vez em quando o nosso cérebro nos engana e cometemos lapsos, aquilo que os psicanalistas freudianos chamam de “ato falho”. Trocamos nomes, fazemos confusão entre personagens de livros, filmes e o rolo está feito. Eu sempre fico em dúvida se determinada frase li em algum livro ou ouvi em um filme.
Tive um colega de profissão que ao se manifestar em um debate no Seminário de Jornalistas de Minas Gerais (1983) afirmou: “Como disse Karl Marx, … [fez a citação]!” Outro participante retrucou: “Marx nunca disse isso”. Sem perder a pose, e para não desperdiçar a citação equivocada, o colega contrapôs: “Se não disse, deveria ter dito!” Ninguém o contestou, pois todos caímos na gargalhada.
A mesma coisa aconteceu recentemente. Eu examinava um chapéu de vaqueiro nordestino em um brechó quando a vendedora se aproximou e perguntou: Ficou interessado no “chapéu do Lampião”?
Respondi que eu tive um daqueles chapéus, mas que aquele modelo era diferente dos usados pelo cangaceiro e acrescentei que estava lendo um livro sobre as aventuras do Lampião no Nordeste brasileiro.
A vendedora então falou que admirava o cangaceiro, pois ela havia lido que “ele era uma pessoa que roubava dos ricos para dar aos pobres, igual ao … Como é mesmo o nome? Ah! Peter Pan!”
Por discordar da teoria de que Lampião era bonzinho, mas sem querer entrar em debate, apenas corrigi a referência literária e perguntei se ela não estava se referindo ao lendário Robin Hood. A mulher me olhou com uma cara de “e-agora-eu-não-sei-quem-era-quem” e encerrou a tentativa de venda.
[Crônica CXX/2024]