Se a intenção era diversão pura e simples, o objetivo foi alcançado. Mas se o criador da ‘Casa da Bruxa’, uma das atrações da Feira da Freguesia, realizada mensalmente pela Prefeitura de São José, queria montar uma peça educativa/informativa, errou na mão.
E errou muito.
A “Casa” foi montada em um dois cômodos da Casa da Cultura (antiga Casa de Câmara e Cadeia), juntamente com a mostra “Boi de Mamão” e só soubemos da sua existência pelo animador da feira, que enquanto enrolava o público que aguardava uma apresentação, citou as atividades que também faziam parte da atração.
Não sou um “especialista em bruxas”, mas já li alguns livros sobre o assunto. Em minha opinião, desperdiçaram uma oportunidade de transmitir um pouco sobre a cultura herdada dos imigrantes açorianos que fundaram a vila de São José da Terra Firme, em 1750, e que trouxeram, entre outras coisas, a crença no sobrenatural, incluindo aí a figura das bruxas.
Na literatura, especialmente os livros do professor Franklin Cascaes que recolheu histórias e lendas entre os descendentes açorianos, as bruxas eram figuras que faziam parte das forças da natureza, os elementais aéreos (elas podiam voar quando queriam), além de ter a faculdade de se transformar em um bicho ou inseto (mariposa) ou objeto (sapatos).
Nas anotações de Cascaes, as bruxas faziam mais brincadeiras que maldades propriamente ditas, como embaraçar as pelos das crinas e dos rabos dos cavalos, depois de cavalgar com eles pelos ares a noite toda; furtar as baleeiras dos pescadores e com elas atravessar o oceano, indo até a Índia; dançar à luz da lua sob redes de pesca. Na parte da maldade, são atribuídas às bruxas as doenças das crianças (“embruxado”), dos bichos e da plantação que não produz ou morre.
Com toda esse conhecimento à disposição, os bem-intencionados servidores que montaram a atração optaram por criar um cenário em que são misturados várias referências, algumas até risíveis, como cobra, baratas, aranhas e ratos, colocaram uma iluminação sombria, e a placa na entrada “Casa da Bruxa”.
Vimos algumas criancinhas com medo de entrar no recinto, enquanto outras queriam até se deitar na cama, que era coberta com uma colcha vermelha, tendo aos pés um par de sapatos prateados. Os chapéus pontudos, pendurados no biombo, remetem às fantasias de halloween.
Fiquei triste com o que vi.
[Crônica CXIX/2024]