Recebi ontem os exemplares da Antologia “Contos, Crônicas e Poemas de Natal”, editado pela Selo Off Flip, Paraty, 2024, onde estão incluídas duas das minhas produções.
Foram selecionados dois textos, a crônica “Inimigo do Natal” que é conhecida, pois a publiquei em 2017; e o conto “Ironia de Natal”, inédito, que vou mostrar para vocês daqui a pouco.
A coletânea faz parte da política da editora de lançar autores estreantes , “embora tenha em seu catálogo escritores com trajetória estabelecida”, explicam. Neste ano de 2024, além da antologia “Contos, Crônicas e Poemas de Natal”, estão previstos os lançamentos dos livros “Brasil em cordel, “Nós – 2; textos de autoria feminina”, “Tchê” – em apoio à tragédia natural que abalou o Rio Grande do Sul no começo do ano – e “Na rede – poesia infantil e narrativas infantojuvenis”.
Abaixo, o conto selecionado:
Ironia de Natal
Não sei se foi ironia do destino, ou pura coincidência eu ter sido beneficiado pelo indulto de Natal assinado pelo presidente. Acho que o destino quis fazer um gracejo comigo, e me incluiu nessa lista sem que eu tivesse pedido ou que eu achasse que merecesse.
O que eu fiz, e purguei por isso (acho), foi matar um homem que se comprometeu a pagar o que me devia – salário, férias, 13º – um dinheiro que era meu por direito e com o qual eu contava para ir visitar minha família no Norte.
O dia do pagamento era um sábado, dois dias antes do Natal. Quando fui receber, o que me aguardava era um recado desaforado dizendo que o patrão havia viajado e que eu deveria voltar em quinze dias para receber o pagamento. Eu me desesperei, mas sem ter o que fazer, fui para um bar e comecei a beber um litro de cachaça.
Era final de tarde quando acordei, debruçado na mesa do bar. A cabeça girando e uma algazarra na rua. Saí trôpego até a porta e vi o meu patrão. Ele estava vestido de Papai Noel distribuindo balas e brinquedos para a criançada.
Aquela visão fez o meu sangue ferver. Olhei em volta em busca de uma coisa que pudesse machucar. Encontrei um tijolo daqueles antigos, maciços. Peguei o tijolo e arremessei na direção do feladaputa do patrão. Acordei na cadeia, cheio de hematomas, acusado de assassinato premeditado e por motivo torpe.
Não é uma ironia sair agora?
[Conto publicado na antologia “Contos, Crônicas e Poemas de Natal”, editora Selo Off Flip, 2024]