Nas minhas leituras aleatórias, como Marcela as chama, soube que neste agosto de 2024 faz 50 anos que o operador de caixa de um supermercado usou, pela primeira vez, um escaner para cobrar o preço de um pacote contendo 10 chicletes.
Era o início do uso do código de barras (UPC – Universal Product Code), que hoje é lido mais de 10 bilhões de vezes por dia em todo mundo.
A lembrança da data “histórica” foi feita pelo pesquisador Jordan Frith, da Clemson University (EUA), que ficou curioso sobre a origem do método de leitura visual de etiquetas. Segundo ele, apesar do mundo ter avançado tecnologicamente de meados de 1974 até hoje, “o UPC continua, basicamente, idêntico”.
Frith diz que a aplicação do método de leitura foi precedida de anos de planejamento e estudos feitos na Stony Brooky University desde 1960, resultando em “ao tornar os produtos legíveis por máquina, eles permitiram grandes melhorias no rastreamento de estoque. Isso significava que os itens que vendiam bem poderiam ser reabastecidos rapidamente quando os dados indicassem, exigindo menos espaço nas prateleiras para qualquer produto individual”.
– Só quando comecei a pesquisar para meu livro é que percebi como um código de barras em uma embalagem de chiclete desencadeou uma cadeia de eventos que transformou o mundo, completou Jordan Frith.
Apocalipse
Paralelo ao desenvolvimento e popularização do código de barras, surgiram ‘profetas’ afirmando que a invenção é uma forma do capeta controlar as pessoas e se baseiam em uma passagem do controvertido livro Apocalipse de João, capítulo XIII, versículos 16 a 18: “A segunda Besta faz também com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, recebam uma marca na mão direita ou na fronte. E ninguém pode comprar nem vender se não tiver a marca da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem inteligência, calcule o número da besta; porque é o número de homem. O seu número é seiscentos e sessenta e seis”. 666!
A teoria conspiratória satânica surgiu porque o código de barras utiliza obrigatoriamente o número seis, por três vezes na “linha-guia”. De acordo com matéria na revista Super Interessante, em cada etiqueta, as linhas-guias são encontradas em três lugares: no canto direito; no meio, separando pela metade os 12 números de cada código; e no canto esquerdo, indicando que a leitura dos códigos chegou ao final.
No início eu tive dificuldades de entender como funciona o código de barras. Usava os traços impressos em etiquetas, reconhecia as vantagens e ria dessa teoria da conspiração satânica (“Será que o coisa-má precisa de um adjutório desse para dominar os humanos?” Pensava), mas não entendia a mecânica da coisa.
Porém, não cheguei ao nível de um cara que eu conheço. Ele estava em uma loja e, enquanto aguardava que a balconista terminasse a embalagem do que ele tinha comprado, pegou o leitor de códigos de barras, apontou o aparelho para os próprios olhos e apertou o gatilho, disparando o feixe de laser.
A vendedora, percebendo a excentricidade, para não dizer outra coisa, tomou o aparelho da mão dele, perguntando se queria ficar cego. Com ingenuidade respondeu:
– Não. Eu só queria escanear meu cérebro e saber como é lá dentro!
[Crônica CX/2024]