24 de agosto de 2024

Sob a luz da pomboca

Por José Carlos Sá

A antiga Casa de Câmara e Cadeia é hoje o Museu de Florianópolis (Foto JCarlos)

Sou adepto da ideia que os museus não podem ser estáticos, uma simples exposição de objetos antigos ou modernos. Acredito que você deve sair de um museu uma pessoa diferente daquela que entrou. 

Ontem (23/08) experimentei a metamorfose de que falo ao participar do evento “Uma noite no museu” promovido pelo Museu de Florianópolis “Prefeito Sérgio José Grando”, administrado pelo Sesc, em parceria com o jornalista Rodrigo Stüpp, o “Guia Manezinho”. 

A iluminação, feita por uma lamparina, ajudou a criar o clima para ‘a noite no museu’ (Foto JCarlos)

A proposta era que os participantes sentissem, mais do que vissem, o prédio onde está localizado o museu – a Casa de Câmara e Cadeia – e a história da Ilha de Santa Catarina e da cidade de Florianópolis, que nasceu com o nome Vila do Desterro.

Aproveitando a tecnologia, fizemos uma imersão no ecossistema da Ilha de Santa Catarina (Foto JCarlos)

Com todas as luzes apagadas, Rodrigo surgiu empunhando uma lamparina antiga, que em “manezês” é chamada de “pomboca”, e com ela conduziu-nos por todos os cômodos da antiga casa de leis e de punições, onde os modernos equipamentos de multimídia só eram ligados para mostrar imagens que a nossa imaginação já havia criado a partir da narração do nosso guia.

Desinvocação

Ouvimos lendas em volta de uma representação da Ilha da Magia (Foto JCarlos)

Perante um mapa em 3D da Ilha de Santa Catarina, Rodrigo Manezinho falou do folclore e das tradições trazidas pelos imigrantes açorianos, crendices européias que permanecem entre nós. 

Entre as crenças seculares, as bruxas são as que povoam a imaginação de quem por aqui vive. Ele citou algumas características que eram usadas para se reconhecer uma bruxa, e fez com que nós repetíssemos os versos de uma oração para exorcizar qualquer bruxedo que pudesse existir no local. Dissemos com fé a “Oração contra as bruxas”, ensinada por Franklin Cascaes, que recolheu a reza nas suas andanças: 

Pela cruz de São Saimão

Que te benzo com a vela benta

na sexta-feira da paixão.

Treze raios tem o sol,

treze raios tem a lua.

Salta demônio para o inferno,

pois esta alma não é tua.

Tosca Marosca,

rabo de rosca.

Aguilhão nos teus pés

e relho na tua bunda.

Por baixo do telhado

São Pedro, São Paulo e São Fontista.

Por cima do telhado

São João Batista.

Bruxa tatarabruxa,

tu não me entres nesta casa,

nem nesta Ilha e nesse Museu.

Por todos os santos, dos santos,

Amém!

Voltei para casa renovado na história da Ilha de Santa Catarina.

[Crônica CVIII2024]