21 de agosto de 2024

Castigo ainda que tardio

Por José Carlos Sá

Uma nota, publicada no rodapé de uma página do Estadão, me fez refletir na decisão dos alemães em não passar o pano para os nazistas (Reprodução)

Li, hoje de manhã, uma notinha publicada no rodapé da editoria de internacional do jornal Estado S. Paulo que chamou atenção e me fez refletir. Dizia o título: “Condenada na Alemanha – Ex-secretária nazista de 99 anos perde recurso”.

O crime, cometido há quase 80 anos, foi ser datilógrafa e secretária de um coronel das SS (Schutzstaffel) que era o comandante do campo de concentração de Stutthof. O local fica em território agora pertencente à Polônia e onde teriam morrido cerca de 10 mil pessoas.

A senhora Irmgard Furchner tinha, na época em que trabalhou para os nazistas, entre 18 e 19 anos e não exercia função de comando nenhuma, mas cuidava dos registros do campo de concentração e era responsável pela correspondência do comandante. A justiça alemã a considerou culpada de cumplicidade e a condenou a dois anos de prisão. A sentença foi confirmada agora pela Suprema Corte, que não deixou que o crime prescrevesse.

No campo de concentração Stutthof morreram homens, mulheres e crianças, sendo a maioria judeus, mas foram executados também membros da resistência polonesa, prisioneiros soviéticos de guerra, pessoas suspeitas de práticas homossexuais, presos políticos, criminosos comuns e membros da denominação Testemunhas de Jeová.

Simbolismo

Frau Irmgard teve confirmada a senteça de dois anos de prisão (Foto Christian Charisius/Pool AFP/Reprodução)

A decisão de levar o julgamento até o mais alto grau da justiça da Alemanha mostra que há uma vontade explícita de tirar esqueletos dos armários e fazer aqueles que tiveram, de alguma forma – como é o caso da Frau Irmgard – envolvimento com as atrocidades que os nazistas cometeram pagarem exemplarmente.

Apesar de todos saberem que a anciã de 99 anos não vai para o sistema penitenciário, todo o barulho em torno do caso demonstra a intenção de não deixar nada por isso mesmo.

É um bom exemplo, que poderia ser seguido pelo Brasil, um país das anistias, do esquecimento, dos acobertamentos, dos panos quentes, dos acochambramentos, da impunidade.

Quem fez *erda tem que pague pelo que cometeu, nem que demore 79 anos, como o caso da dona Irmgard.

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