Li, hoje de manhã, uma notinha publicada no rodapé da editoria de internacional do jornal Estado S. Paulo que chamou atenção e me fez refletir. Dizia o título: “Condenada na Alemanha – Ex-secretária nazista de 99 anos perde recurso”.
O crime, cometido há quase 80 anos, foi ser datilógrafa e secretária de um coronel das SS (Schutzstaffel) que era o comandante do campo de concentração de Stutthof. O local fica em território agora pertencente à Polônia e onde teriam morrido cerca de 10 mil pessoas.
A senhora Irmgard Furchner tinha, na época em que trabalhou para os nazistas, entre 18 e 19 anos e não exercia função de comando nenhuma, mas cuidava dos registros do campo de concentração e era responsável pela correspondência do comandante. A justiça alemã a considerou culpada de cumplicidade e a condenou a dois anos de prisão. A sentença foi confirmada agora pela Suprema Corte, que não deixou que o crime prescrevesse.
No campo de concentração Stutthof morreram homens, mulheres e crianças, sendo a maioria judeus, mas foram executados também membros da resistência polonesa, prisioneiros soviéticos de guerra, pessoas suspeitas de práticas homossexuais, presos políticos, criminosos comuns e membros da denominação Testemunhas de Jeová.
Simbolismo
A decisão de levar o julgamento até o mais alto grau da justiça da Alemanha mostra que há uma vontade explícita de tirar esqueletos dos armários e fazer aqueles que tiveram, de alguma forma – como é o caso da Frau Irmgard – envolvimento com as atrocidades que os nazistas cometeram pagarem exemplarmente.
Apesar de todos saberem que a anciã de 99 anos não vai para o sistema penitenciário, todo o barulho em torno do caso demonstra a intenção de não deixar nada por isso mesmo.
É um bom exemplo, que poderia ser seguido pelo Brasil, um país das anistias, do esquecimento, dos acobertamentos, dos panos quentes, dos acochambramentos, da impunidade.
Quem fez *erda tem que pague pelo que cometeu, nem que demore 79 anos, como o caso da dona Irmgard.