Estamos em plena safra de eleição, já perto da colheita e os candidatos buscam convencer os eleitores de que são as melhores opções. Estou acompanhando as campanhas em várias cidades, mais por hábito do que por outro motivo, ao mesmo tempo em que busco informações sobre os postulantes a prefeito e a vereadores na cidade em que moramos.
Li hoje, em um jornal mineiro, que a prefeita da cidade de Contagem, onde minha mãe, irmãs e sobrinhos moram, quer ser reeleita. Em uma reunião com apoiadores, Marília Campos (PT) se queixou dos adversários que “só aparecem em época eleitoral”.
Ouvi muito essa frase nas campanhas em que trabalhei ao longo da minha vida. Em reuniões, caminhadas ou qualquer outra atividade política que demande o corpo a corpo com o eleitor, o candidato vai ouvir o refrão muitas vezes ao dia: “Lá vem eles, só aparecem na época de eleição”.
Eu penso que, afora prefeitos e vereadores de cidades pequenas, é difícil para um político eleito retornar com frequência aos locais onde pediu e obteve votos. Um deputado estadual, por exemplo, teoricamente deve passar a semana na capital, pois tem que frequentar as sessões da Assembleia Legislativa. O mesmo vale para deputados federais e senadores.
Um dos políticos com quem trabalhei usava uma citação bíblica para rebater a acusação de ter sumido e “só aparecido em época eleitoral”. Ele dizia: “Está escrito lá em Eclesiastes: há um tempo para cada coisa, tempo de plantar, de colher, de nascer, de viver e de morrer. Agora nós estamos no tempo de pedir votos. O senhor votou em mim para ser o seu representante lá em Brasília. Se eu ficasse todo o dia passando na sua casa, o senhor não ia gostar, pois eu deveria estar trabalhando no Congresso e não aqui, não é verdade?”
Zerou tudo
Há também aqueles candidatos que fazem promessas, são eleitos, assumem o cargo e desaparecem.
Assisti, na campanha para as eleições municipais de 2000, a um comício em que o prefeito, candidato à reeleição, foi ao mesmo lugar da campanha passada e repetiu a promessa feita há quatro anos e que não cumpriu. Os eleitores protestaram na hora e começaram a vaiar. O compromisso, não honrado, foi asfaltar a estrada que liga a comunidade à BR-101, numa extensão de pouco mais de 28 quilômetros.
O prefeito ficou calado, esperou os ânimos serenarem e saiu com essa: “Olha, gente, eu peço desculpas a vocês por não ter vindo aqui antes explicar porque o asfalto não saiu [gritos de “mentiroso!”]… Não, eu não menti [gritos de “sem vergonha”, ”mentiroso”, “safado”, “nem fica vermelho”]…”
– Peraí gente, vocês têm toda razão, deixa eu explicar. Todo mundo ouviu falar da “Lei de Responsabilidade Fiscal”, aprovada pelo Congresso, não ouviu? Então, essa lei zerou tudo. As promessas que eu fiz – que todos os prefeitos fizeram – não pude cumprir, porque senão eu ia para a cadeia. Como eu disse, zerou tudo. Por isso estou aqui de novo, para firmar esse compromisso com vocês. Agora, sim, é para valer”.
O cara saiu aplaudido do comício e foi reeleito, mas a estrada só foi asfaltada 20 anos depois pelo Estado, pois era uma via estadual.
[Crônica CVII/2024]