Li uma matéria especial sobre o jubileu de 25 anos da Pastoral de Coroinhas, no Jornal da Arquidiocese de Florianópolis (agosto 2024), e lembrei que na minha infância eu tinha o sonho secreto de ajudar nas missas.
Nas celebrações eu não tirava os olhos dos coroinhas. Achava bonito ver meninos* da minha idade, lá no altar, vestidos com a túnica vermelha com a sobrepeliz branca, sabendo a hora certinha de tocar a sineta, servir a água e o vinho ou de ajudar o padre a lavar as mãos. Pensava que era preciso ter um curso, um treinamento, para exercer aquela função.
No período em que fui escoteiro, um dos colegas – o saudoso Caetano Torres – era o nosso “coroinha oficial” e ajudava nas missas celebradas para as crianças internadas no Hospital da Baleia, em Belo Horizonte (MG), a que assistíamos antes das reuniões dominicais.
Apesar da “presença” que ele impunha, vestido com o uniforme , o Caetano era atrapalhado e se distraía fácil, precisando que o padre o lembrasse, discretamente, do que tinha que fazer. Uma vez, ao servir o vinho, o Caetano olhava para o outro lado. O padre levantou a mão para que ele parasse de colocar a bebida no cálice e o Caetano acompanhou o movimento levantando também a mão dele. O padre disse ríspido: “Chega!”. O Caetano se assustou e derramou vinho no chão. Foi o nosso assunto do dia.
Quase coroinha
A minha idade foi passando e as prioridades também, até que por volta de 2008, atendi a um convite feito durante uma missa e passei a integrar a equipe de liturgia da Catedral do Sagrado Coração de Jesus, de Porto Velho (RO), na qualidade de “comentarista” na Liturgia da Palavra.
Antes de anunciar as duas leituras e o Evangelho, eu lia uma pequena explicação sobre a que os evangelistas se referiam nos textos. Para conseguir fazer isso, participávamos antecipadamente de uma reunião com o padre Emílio La Noce, que contextualizava as escrituras para que entendêssemos.
Tive a oportunidade de comentar em celebrações presididas pelos padres Emílio e Franco Albanesi, além de outros, e pelos bispos D. Moacyr Grecchi e D. Antônio Possamai. Infelizmente os quatro religiosos já faleceram.
Na primeira vez em que auxiliei em uma missa que D. Antônio Possamai celebraria, fui mostrar o texto que preparei para cada comentário. Ele leu “por cima” e apenas recomendou: “Deixe alguma coisa para eu falar!” Fiquei em dúvida se era crítica ou elogio.
Enfim, não fui coroinha, mas considero que a minha atuação como comentarista serviu como prêmio de consolação a um sonho não realizado.
* Às meninas só foi permitido a partir de 1994, quando o papa João Paulo II autorizou oficialmente, “a presença de coroinhas meninas como ajudantes nas celebrações litúrgicas”, informa o texto do jornal.
[Crônica CVI/2024]