… foi quando aproveitamos um contratempo – cancelamento de um evento, em que já estávamos com hotel reservado e pago – para passear, rever o que conhecíamos e conhecer outras coisas.
Fomos a São Francisco do Sul, cidade que é considerada uma das cidades mais antigas do Brasil,pois consta que os europeu chegaram ali em 4 de janeiro de 1504, em uma missão comandada pelo francês Binot Paulmier de Gonneville, encontrando, claro, os donos da terra, o povo Carijó.
Morro do Sambaqui
A primeira visita ao chegarmos, sábado (10), foi ao Morro do Sambaqui, uma herança do povo Carijó. O morro fica localizado na praia Grande, no bairro da Enseada. Tem cerca de 30 metros de altura e foi construído – não sei se essa é a palavra mais precisa – ao lado de um rochedo, onde existem oficinas líticas.
As informações disponíveis no local dão conta que foram feitas escavações por pesquisadores do Museu de Antropologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), entre os anos de 1969 e 1970, “tendo sido coletados artefatos líticos, cerâmicas, conchas, berbigão, ostras, ossos de baleias, resquícios de fogueiras e faixas de fogo, instrumentos de pedras e esqueletos humanos”.
Fiquei emocionado, pois foi o primeiro sambaqui que vi pessoalmente.
Forte Marechal Luz e Museu Histórico
Visitamos depois o Forte Marechal Luz, construído há 109 anos, mas o local já havia servido de defesa do litoral desde o início do século 18, quando os portugueses instalaram uma bateria de canhões na “Ponta do João Dias, no Morro do Alemão, com o intuito de defender o litoral dos espanhóis, ingleses e franceses”, informa o histórico da fortaleza.
Atualmente a unidade militar é aberta para visitas à antiga bateria de artilharia, que é formada por quatro canhões, instalados no alto do morro, com vistas para a baía da Babitonga, e o museu militar – onde outrora ficavam instalados o paiol de munições e a casamata. As demais dependências do quartel foram transformadas em um hotel para hospedagem de militares.
O nome da fortificação é uma homenagem ao Marechal Francisco Carlos da Luz, que como militar se destacou na Guerra do Paraguai (1864-1870) e na Revolta da Armada (1891 e 1893-1894). Foi professor e deputado geral (federal) por Santa Catarina, por duas vezes. O marechal Luz nasceu em São José/SC.
Batendo com a cara na porta
No domingo (11), havia sol, mas a temperatura estava baixa, e fomos perambular pelo centro histórico da cidade, já que o nosso objetivo, como expliquei antes, foi cancelado. Encontramos o Mercado Público com as portas abertas, mas só estava funcionando uma loja de artesanato.
Passamos pelo Museu do Mar, lugar muito interessante que visitamos da primeira vez que estivemos na cidade (em 2012), e que está fechado para reformas desde julho de 2022, por decisão judicial, a pedido do Ministério Público de Santa Catarina.
No entanto, não vimos qualquer sinal de obras: não havia caçambas para recolher entulhos, nem montes de areia ou brita, muito menos um tapume sequer. Mas está fechado para obras de reforma.
A igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora das Graças, foi construída no mesmo local onde havia uma capela que foi erigida em 1553 por tripulantes de um bergantim espanhol que ia para o Rio da Prata e foi apanhado por uma tempestade. De joelhos perante a imagem de uma santa levada a bordo, prometeram que se sobrevivessem à borrasca, construíram uma capela em devoção à Nossa Senhora das Graças na primeira terra firme em que chegasse. Assim conta a história.
A igreja estava fechada quando passamos por lá, assim como o Museu de Arte Sacra, que fica no mesmo prédio da matriz (estava na nossa lista de visitas). Na porta um recado: “Dia 11/08 / Dia dos pais / Museu fechado”!
O outro museu que iríamos visitar era o municipal. Também demos com a cara na porta. O papel colado na janela avisava: “Excepcionalmente neste domingo 11/08/2024. O Museu Histórico Prefeito José Schmidt estará fechado”.
Museus fechados 3 x Marcela e Zé Carlos 0!
Experiência socialista no Sul
Mas nós não desistimos fácil.
Andamos pelas ruas do centro histórico e fomos passear no Parque Ecológico Municipal Celso Amorim, que fica a duas quadras da igreja matriz. O GPS apontava o lugar, mas não conseguimos encontrar. Pedi informações de uma mulher que estava sentada em um banquinho no final de uma rua sem saída. Ela respondeu: “É aqui mesmo, a entrada é aí (foi quando vimos o portão e uma escadaria), mas está fechado há uns três meses”. Está em reforma? quis saber. “Não sei. Fecharam e não vi mais nada”.
O jeito foi improvisar e partimos para a estação do Ferry Boat, atravessando para a Vila da Glória, no distrito do Saí, do outro lado da baía da Babitonga. O local é uma antiga vila de pescadores e hoje oferece uma rota gastronômica, com “ênfase” nos frutos do mar. Como atrativos turísticos oferecem passeios de barco até as ilhas próximas, além de caminhadas por trilhas e banhos nas cachoeiras – que a baixa temperatura não nos permitiu usufruir. Passeamos pela vila, andamos nos trapiches e almoçamos um delicioso robalo amarelo frito.
‘Fala sério’
Placas turísticas, no porto de desembarque da balsa, faziam referência a um tal de “Falanstério”. O nome despertou a curiosidade. Fomos seguindo as indicações, mas não logramos êxito – como dizem os policiais nas entrevistas – em encontrar as ruínas do negócio.
O professor Google nos explicou que “Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí foi uma comunidade experimental formada em 1841 por colonos franceses, na península do Saí, às margens da Baía de Babitonga, nas imediações da atual Vila da Glória, próximo à atual cidade histórica de São Francisco do Sul”.
A comunidade era baseada nos princípios do filósofo francês Charles Fourier, que propunha uma forma de cooperativismo auto-suficiente. Era uma um lampejo do comunismo. Mas houve dissidência entre os franceses que vieram para a Província de Santa Catarina e um grupo criou outra comunidade onde é a Vila da Glória. As experiências morreram pouco tempo depois, ficando “o Falanstério do Saí considerado como o primeiro núcleo colonial francês e a primeira influência do socialismo utópico no Brasil”.
Talvez, por ter representado a utopia, não conseguimos encontrar o que sobrou dele.
Joinville e Brusque
Mesmo com as limitações impostas pelo “dia dos pais”, aproveitamos bem o nosso passeio. Visitamos ainda o Parque Zoobotânico e a Rua das Palmeiras em Joinville; o santuário de Nossa Senhora de Azambuja e o Parque das Esculturas em Brusque (Vou publicar mais fotos esta semana ainda).