
Cabine bancária semelhante a que havia no centro de Porto Velho (Foto Itapetingaagora.Com/Reprodução)
Hoje é difícil encontrar uma pessoa que não saiba trabalhar com cartões bancários, mas ainda existem. Imaginem na década de 1980, quando o Bradesco instalou a primeira cabine ATM (sigla em inglês para Automated Teller Machine, ou caixas eletrônicos) em Porto Velho (RO). Era uma cabine de vidro na praça Marechal Rondon, no centro da cidade. Os felizes clientes do banco tinham acesso à grana deles 24 horas por dia. Um luxo.
Um colega meu – Pedrinho (nome fictício) – não tinha zelo com o cartão bancário. Ele carregava o cartão solto no bolso e o dito cujo ficou todo amassado. Naqueles tempos pioneiros, os cartões bancários tinham uma tarja magnética no verso onde ficava gravado, eletronicamente, os dados do cliente. Qualquer risquinho estragava o cartão, que também deveria passar longe de fontes eletromagnéticas.
Certo dia, ao tentar usar o caixa eletrônico da praça, o cartão do Pedrinho ficou preso dentro da máquina, e ele tentava resgatar enfiando a lâmina de um canivete na ranhura. De repente, uma janelinha se abriu na parte superior da máquina e apareceram os olhos raivosos de um homem, que, em seguida, jogou na cara do meu colega o cartão bancário despedaçado, fechando a janelinha com violência.

Só o bagaço. Imagem criada a meu pedido, para dar ideia do cartão do ‘Pedrinho’ (Imagem Dall-E3/Microsoft)
Depois do susto (“Eu não sabia que ficava alguém lá dentro”, me disse Pedrinho) veio a indignação. Ao invés de usar o telefone existente na cabine, meu colega foi pessoalmente à agência que fica distante uns 250 metros.
Ao chegar foi direto ao gerente e mostrou os pedaços do cartão bancário destruído pela fúria do homem da cabine. O administrador foi logo dizendo que aquilo não podia acontecer, pediu desculpas e disse que mandaria chamar o funcionário para se explicar. Mal pegou no interfone, viu o bancário encarregado da cabine entrar na agência.
– Fulano! Venha cá, por favor… Esse cliente está reclamando que você rasgou o cartão e jogou no rosto dele!
– Foi sim, sêo Beltrano. Estou cansado de ser chamado, todo dia, lá na cabine para recuperar cartão que fica preso na máquina. Eles [os clientes] dão os cartões para o boi mastigar e depois querem usar normalmente. Ainda falam que “a máquina engoliu o meu cartão”… Ora!
– Se acalme – disse o gerente. Vai beber uma água e depois conversamos.
O gerente pediu mil desculpas ao Pedrinho, disse que iria providenciar um cartão novo, “sem custos para o cliente”, e sugeriu que doravante guardasse o cartão em uma carteira em que ele não amassasse.
Pedrinho me contou essa história no dia seguinte ao acontecido e ainda não estava recuperado do susto na cabine.
[Crônica CI/2024]