A empresa em que trabalhei adotou o que tinha de mais moderno em se tratando de segurança do trabalho e até fazia exigências maiores do que aquelas previstas nas NRs (Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho), tanto para os funcionários quanto para os terceirizados e fornecedores. Entre os procedimentos, foi criado e adotado um “plano para evacuação de emergência”.

Em caso de emergência devíamos deixar o local de trabalho e nos dirigir ao Ponto de Reunião (Foto Marcos Sandes/AF Notícias)
Um dia recebemos as instruções de como proceder em caso de uma emergência. Os técnicos em segurança do trabalho explicaram tim-tim por tim-tim, repassaram tudo e fizeram testes orais com vários colegas, escolhidos aleatoriamente, para conferir se todo mundo tinha entendido.
As instruções eram, basicamente, essas: quando a sirene tocar, pare imediatamente o que estiver fazendo, abandone o seu posto de trabalho e corra para o local de encontro mais próximo. Havia sinalização indicando esses locais. Também foi ressaltado que se houvesse alguém com dificuldades de locomoção, essa pessoa deveria ser levada pelos colegas da melhor e mais rápida forma possível. Se preciso, chamasse uma ambulância para o deslocamento.
Não sei quando depois de recebermos as instruções – mas não muito tempo – a sirene tocou, assustando a todos. Como foi orientado, corremos para o ponto de encontro e ficamos lá por mais uma hora, sob o sol inclemente de Porto Velho (RO) esperando a orientação seguinte, que deveria ser para voltar aos afazeres ou abandonar a empresa. Ninguém apareceu – apesar de tudo estar sendo monitorado remotamente – para dar essa definição e voltamos, por nossa conta, aos postos de trabalho.

A “pessoa” com dificuldade de locomoção foi deixada para trás na simulação de evacuação (Imagem Dall-E 3/Microsoft)
No dia seguinte, em conversas de refeitório (lá não tinha corredores), soube que o nosso simulado foi considerado um fracasso por vários motivos. Vou relacionar alguns para ser breve. Um manequim (vestido como um trabalhador) foi deixado na recepção para simular uma pessoa com dificuldades de mobilidade. Quando a sirene tocou, a recepcionista telefonou para o ambulatório pedindo o auxílio de uma ambulância. Ninguém atendeu ao telefone no ambulatório e a colega foi embora para o ponto de encontro.
Se alguém tivesse atendido ao telefone no ambulatório – disseram que haviam deixado o local, conforme as orientações da segurança do trabalho – não havia ambulância para atender a demanda. O veículo estava em outro local atendendo a uma ocorrência de verdade.
Outro ponto que foi apontado como negativo é que alguns colegas, ao invés de fugir com a roupa do corpo – como se diz popularmente – perderam tempo ao recolher os notebooks, mochilas e bolsas para então abandonarem o local.
Resumindo, se fosse um caso real de incêndio ou uma catástrofe natural, aquelas pessoas teriam mais chances de se tornarem vítimas. Também foi apontada outra possível vítima, o manequim abandonado na recepção.
Saí da empresa algum tempo depois – dois ou três anos – e não participei de outros simulados como aquele, que ficou na história.
[Crônica XCIX/2024]