
“No dia seguinte todos os funcionários apareceram para trabalhar usando a camisa com a logomarca da Fiero” (Imagem gerada por IA – Copiloto/Microsoft)
Enquanto jogo minhas partidas de Paciência ou de Bubble Shooter sou bombardeado – a cada vez que erro uma jogada e tenho que reiniciar a fase – com recados de ‘coachs’ e ‘influencers’, que me oferecem de compras no site da Magalu a remédios milagrosos para emagrecer sem parar de comer (Oh! Glória ao Pai!).
Também oferecem cursos de como se dar bem numa entrevista de emprego e táticas de liderança. Em um dos anúncios, o garoto-propaganda, identificado como “coach e PhD em alguma coisa em Harvard”, diz que vai ensinar como conseguir o comprometimento dos colaboradores para que sua empresa obtenha sucesso nos negócios.
Não sei qual a palavra-chave que ele pronunciou que causou em mim o mesmo efeito de uma regressão por hipnose. Me lembrei de uma cena que eu não presenciei, mas que ouvi a descrição com detalhes tão minuciosos que aquilo passou a fazer parte da minha memória, como se eu também a tivesse vivido.
No início dos anos 1990, ainda no governo do presidente Fernando Collor de Mello, as pessoas estavam tristes e desmotivadas. O aumento da inflação era “galopante”, para usar uma expressão daquela época, e se vivia à espera de um milagre. Parecia que tudo ia mal para todo mundo e para todo lado, não tendo onde se esconder.
Neste contexto, o então chefe de gabinete da Fiero (Federação das Indústrias de Rondônia), José Faid Ribeiro de Faria, notando o clima de desânimo entre os funcionários da sede da entidade, convocou uma reunião geral e fez uma preleção estimulando a pessoas “a darem o melhor de si” e finalizou fazendo um convite para que todos “vestissem a camisa da Fiero”.
O apelo foi ouvido e entendido literalmente, ao pé-da-letra, repito, sem medo de ser redundante. No dia seguinte todos os funcionários apareceram para trabalhar usando a camisa com a logomarca da Federação que foi distribuída por ocasião do evento do “Dia da Indústria” daquele ano.
O Faid ficou preocupado: “Ninguém entendeu o que eu falei…”
[Crônica XCVIII/2024]