O carro do Departamento de Comunicação foi seguido e seus ocupantes ameaçado por homens que estavam em uma caminhonete (Imagem gerada por IA Copiloto/Microsoft.Com)
Dentre as experiências profissionais adquiridas em Rondônia, uma se destacou pelo ineditismo e pelo risco de vida que ofereceu. Foi em 1991, quando fui indicado para compor a comissão que acompanharia o interventor nomeado pelo governo do Estado para substituir o prefeito Sidney Guerra, na cidade de Jaru, a 290 quilômetros da capital, Porto Velho.
A missão era composta pelo interventor Antônio Campanari, representantes da Procuradoria Geral do Estado, da Controladoria Estadual e da Casa Civil. Completavam a equipe uma secretária, dois policiais – um civil e um militar – e eu, na comunicação.
Eu deveria produzir releases sobre as ações “saneadoras” que o interventor tomasse, e enviá-las para Porto Velho, onde os textos seriam avaliados, não jornalisticamente, mas politicamente.
Como em toda intervenção, fomos recebidos com frieza e hostilidade. Antes da posse, o governador Osvaldo Piana se reuniu com as “forças de segurança” da região para saber se o “clima” da cidade estava tenso. A resposta foi positiva, e Piana determinou que houvesse patrulhas policiais ostensivas nas proximidades do prédio da Prefeitura e de onde iríamos residir.
Após me deixar em Jaru, o carro do Departamento de Comunicação seguiu viagem para Ji-Paraná. Antes de deixar a cidade, os colegas perceberam que estavam sendo seguidos por uma camionete, e em certo momento os ocupantes do veículo perseguidor passaram a fazer gestos ameaçadores.
Por precaução, decidimos alugar uma casa por nossa conta e contratar uma cozinheira. Além disso, iríamos para a Prefeitura todos juntos, faríamos as refeições em casa e evitariamos andar pela cidade. A casa tinha sistema de câmeras de monitoramento e rondas policiais frequentes.
Pistoleiro
Ainda nos primeiro dias da intervenção, o agente da Polícia Civil que estava destacado para nos acompanhar suspeitou das atitudes de um homem que entrou na prefeitura. Cícero, o policial, foi até ele e o abordou disfarçadamente, perguntando que departamento ele procurava.
O homem não tinha ensaiado direito a desculpa para estar ali e gaguejou. Em um movimento rápido, o policial o abraçou, segurando a arma do adversário e o imobilizando. A PM foi chamada e prendeu o homem, que foii enquadrado apenas por porte de arma de fogo e liberado em seguida, sem que fossem conseguidas informações sobre as suas intenções ocultas.
Para nós, “sub-interventores”, o recado foi entendido e o medo aumentou.
Feirinha
Logo após a posse, o interventor convidou os vereadores para uma reunião, para tomar pé da situação da cidade. Os edis que apoiavam o prefeito afastado fizeram a declaração de protesto e se retiraram. Os demais aproveitaram para apresentar as reivindicações para seus redutos, que antes não eram atendidas por serem da oposição.
Falaram em iluminação da ponte, na BR-364; dos buracos na rodovia que atravessa a cidade; da atenção aos bairros; e, especialmente, pediam que a “feirinha”, existente na entrada da cidade, fosse deslocada para outro lugar. Enquanto eu anotava, o Campanari disse ao grupo: “Vamos estudar trazer uma Feira do Produtor para Jaru.”
Os vereadores riram e, só então, explicaram que a “feirinha” era como chamavam na cidade a região de prostituição e de distribuição de drogas.
[Crônica XCVII/2024]