
O meninoi bebeu a “vitamina” feita com cogumelos do pasto (Imagem gerada por IA – Copiloto/Microsoft.Com
Ele voltou da rua no final da tarde, com uma lata de leite condensado nas mãos. Ao passar pela sala, o irmão caçula, que assistia televisão, se distraiu ao ver a guloseima e ficou atento aos barulhos da cozinha. Se quisesse ganhar um pouco do que o irmão ia fazer, teria que aparecer no momento oportuno. Sabia como o irmão mais velho era egoísta.
O liquidificador velho começou a fazer barulho e o menino se preparou para o bote. Levantou da poltrona e ficou na porta da cozinha, sem entrar. A “hora h” seria quando a deliciosa vitamina (imaginava e lambia os beiços) estivesse sendo derramada no copo.
Agora!
– Chico, me dá um pouco?
– Não.
– Ô, Chico, um pouquinho só…
– Não.
– Deixa eu raspar o copo, então?
– Não. Você não pode beber isso…
– Por que não? Você vai beber tudo sozinho?
– Vou. Vai embora daqui, senão…
– Mãããããeeeeee! O Chico fez vitamina e não quer me dar um pouco!
A mãe, que estava no quintal colocando roupas no varal, gritou:
– Francisco Eugênio, deixa de ser ‘suvino’, menino! Divide a sua vitamina com o seu irmão!
– Não, mãe. Ele não pode beber isso…
– Me obedeça, Francisco Eugênio!!
– Mas, mãe…
– Agora!
– Sim, sinhora!
Respondeu e saiu da cozinha resmungando: – Depois não diga que eu tenho culpa…
Baratas brotando no ar
O garoto, satisfeito com a vitória sobre o irmão, nem se preocupou em pegar um copo e virou a vitamina diretamente da jarra, com gulodice. Com uma colher, raspou todo o vestígio do creme que havia ficado no fundo. Jogou tudo na pia e voltou para a sala.
Alguns minutos depois começou a se sentir estranho, leve. A televisão, à sua frente, parecia que estava derretendo e escorrendo da mesinha onde estava.
O quadro do Sagrado Coração de Jesus, na parede, se esticava para os lados…
Mas o pior foi o aparecimento de milhares de baratas de todos os tamanhos, saindo da tevê, do quadro, do ar… Andando pelo chão e pelas paredes!
– Mãããããeeeeee! As baratinhas, mãe! Elas vão me pegar! Mãããããeeeeee!
A mãe correu esbaforida e, vendo o filho tendo alucinações, chamou o “culpado”:
– Francisco Eugênio, o que você deu para o seu irmão? Ele tá vendo visagens!
– Foi a senhora que mandou eu dar para ele…
– O que você deu para ele, Francisco Eugênio?
– Eu bati leite condensado com uns cogumelos que peguei no pasto…
[Crônica LXXXIX/2024]