30 de junho de 2024

O suvino, o pidão e as baratinhas

Por José Carlos Sá

O meninoi bebeu a “vitamina” feita com cogumelos do pasto (Imagem gerada por IA – Copiloto/Microsoft.Com

Ele voltou da rua no final da tarde, com uma lata de leite condensado nas mãos. Ao passar  pela sala, o irmão caçula, que assistia televisão, se distraiu ao ver a guloseima e ficou atento aos barulhos da cozinha. Se quisesse ganhar um pouco do que o irmão ia fazer, teria que aparecer no momento oportuno. Sabia como o irmão mais velho era egoísta.

 O liquidificador velho começou a fazer barulho e o menino se preparou para o bote. Levantou da poltrona e ficou na porta da cozinha, sem entrar. A “hora h” seria quando a deliciosa vitamina (imaginava e lambia os beiços) estivesse sendo derramada no copo.

Agora!

– Chico, me dá um pouco?

– Não.

– Ô, Chico, um pouquinho só…

– Não.

– Deixa eu raspar o copo, então?

– Não. Você não pode beber isso…

– Por que não? Você vai beber tudo sozinho?

– Vou. Vai embora daqui, senão…

– Mãããããeeeeee! O Chico fez vitamina e não quer me dar um pouco!

A mãe, que estava no quintal colocando roupas no varal, gritou:

– Francisco Eugênio, deixa de ser ‘suvino’, menino! Divide a sua vitamina com o seu irmão!

– Não, mãe. Ele não pode beber isso…

– Me obedeça, Francisco Eugênio!!

– Mas, mãe…

– Agora!

– Sim, sinhora!

Respondeu e saiu da cozinha resmungando: – Depois não diga que eu tenho culpa…

Baratas brotando no ar

O garoto, satisfeito com a vitória sobre o irmão, nem se preocupou em pegar um copo e virou a vitamina diretamente da jarra, com gulodice. Com uma colher, raspou todo o vestígio do creme que havia ficado no fundo. Jogou tudo na pia e voltou para a sala.

Alguns minutos depois começou a se sentir estranho, leve. A televisão, à sua frente, parecia que estava derretendo e escorrendo da mesinha onde estava. 

O quadro do Sagrado Coração de Jesus, na parede, se esticava para os lados…

Mas o pior  foi o aparecimento de milhares de baratas de todos os tamanhos, saindo da tevê, do quadro, do ar… Andando  pelo chão e pelas paredes!

– Mãããããeeeeee! As baratinhas, mãe! Elas vão me pegar! Mãããããeeeeee!

A mãe correu esbaforida e, vendo o filho tendo alucinações, chamou o “culpado”:

– Francisco Eugênio, o que você deu para o seu irmão? Ele tá vendo visagens!

– Foi a senhora que mandou eu dar para ele…

– O que você deu para ele, Francisco Eugênio?

– Eu bati leite condensado com uns cogumelos que peguei no pasto…

[Crônica LXXXIX/2024]

Tags

Cogumelos do pasto Porto Velho Visagem 

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