Eu voltava de mais uma jornada no estande que a empresa em que trabalhava montou numa edição da feira agropecuária e industrial de Porto Velho, a Expovel. Era um expediente puxado, ficava de pé e falava com os visitantes, das 14 horas até o momento em que começavam os shows no evento – geralmente a partir das 23 horas.
Depois de supervisionar o fechamento do local e dar instruções ao vigia, fui para casa. Ao sair da BR-364, uma moto vinda da direção contrária, não respeitou a minha preferência e entramos juntos no acesso ao bairro. Eu mantive a velocidade e o motociclista teve que reduzir.

De perseguido passei a perseguidor, como no filme do Spielberg (Imagem gerada por IA – Copiloto/Microsoft.Com)
Inconformado com a minha má educação em não ceder a passagem, ele então se colocou atrás do meu carro e acendeu o farol alto, direcionando o foco para o espelho retrovisor externo. Se eu já não enxergo bem de dia, no escuro, muito menos. E encadeado então?
Reduzi a velocidade para ele me ultrapassar e o desgraçado reduziu a velocidade também, mantendo a tortura visual. Seguimos assim por quase um quilômetro, quando eu dei seta para a direita e parei o carro. O cara, que levava uma mulher na garupa, passou à frente e foi a minha vez de me divertir.
Incorporei a personagem que dirigia o caminhão no primeiro sucesso do diretor Steven Spielberg, “O Encurralado” (1971).
Acendi o farol alto e fui atrás da moto, sem me aproximar muito, apenas para fazer a luz alta atrapalhar a visão dele. O motociclista acelerava, eu acelerava; ele reduzia, eu também reduzia; ele passou um quebra-molas sem diminuir a velocidade, eu também passei.
A mulher que estava na garupa começou a se desesperar. Olhava para trás e falava alguma coisa com o piloto, batia nas costas dele e apontava para mim. E eu lá, firme.
Em determinado momento, ele saiu da via principal e entrou em uma rua à esquerda. Para azar dele, era a mesma rua que eu teria que entrar para ir para minha casa. Notei o desespero do meu “adversário”, que fez uma curva repentina para uma ruazinha lateral e seguiu acelerado.
Me dei por satisfeito, considerei a dívida quitada e fui para casa rindo sozinho da maldade que eu tinha feito. Dormi como um bebê.
[Crônica LXXXVII/2024]