Por um motivo que desconheço, do pântano da minha memória, emergiu uma canção – ou melhor, um estribilho – que fazia parte do repertório que o meu pai cantava ao chuveiro e que não tocava no rádio.
É um refrão pegajoso, que acordei repetindo mentalmente: “Eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola, eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola, eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola,eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola, eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola…”
Fui pesquisar e encontrei a informação de que a música “Andorinha preta” é de autoria de Breno Ferreira Hehl, que a compôs em 1956 (ano em que nasci) e foi sucesso do Trio Irakitan. Daí a explicação de ser cantada por meu pai, que era fã desse conjunto musical, e tinha um disco deles lá em casa. Também foi gravada pela Hebe Camargo e pelo Wilson Simonal.
Como eu continuava com o refrão-chiclete na cabeça e no bico, contei para a Marcela essa lembrança “do nada” da música “eu tinha uma andorinha…”. Ela ouviu atentamente e respondeu com uma pergunta que eu não consegui responder:
– Por que prender a bichinha em uma gaiola? Por que essa maldade?
É. Por que essa maldade, se a andorinha nem canta?
[Crônica LXXXII/2024]