No período de quatro anos em que trabalhei nos Correios fui “promovido” uma vez. Saí da função de mensageiro, quando entregava cartas o dia todo na rua, sob chuva e sol, para uma tarefa interna.
O departamento em que trabalhava fazia entrega de documentos, que em 90% dos casos eram cobranças de bancos e avisos de cartórios sobre títulos protestados. E toda a entrega era feita contra recibo, devido à natureza do serviço.
A minha tarefa interna, junto com outros colegas, era separar esses recibos por cliente; organizá-los numericamente em ordem crescente; dar baixa nas listas de envio, para saber quantas correspondências foram entregues e quantas faltavam; e devolver tudo para os contratantes.
Na mesma sala trabalhavam os colegas – todos carteiros antigos – que separavam as cartas que chegavam, distribuindo em escaninhos por distritos, por bairros e por ruas. Um desses separadores tinha a mania, ao chegar, de ligar um ventilador grande de parede, sem aviso prévio.
Quando o ventilador era ligado, voava papel para todo lado e o serviço que estávamos fazendo, de separação de recibos, ia literalmente pelos ares. E não adiantava reclamar. O cara se “achava” e a chefia era complacente.
Uma tarde, já com as medidas cheias (para não dizer o que estava cheio em mim) resolvi usar os meus conhecimentos de eletricidade para dar um susto no sujeito.
Aqui é necessário que eu abra parênteses. Fiz um curso de eletricidade básica quando escoteiro e acho que não prestei atenção à aula: ao instalar uma campainha na casa da minha mãe, provoquei um curto-circuito! Rapidamente fecho os parênteses.
Sem que ninguém percebesse, peguei um grampeador e grampeei o cabo do ventilador, que era uma extensão “Tabajara”. Cuidadosamente retirei as perninhas do grampo e deixei a parte sabotada virada para a parede. Depois foi só esperar.
O cara chegou, guardou as coisas dele e se agachou para ligar o ventilador na tomada (eu prendi respiração). Quando ele enfiou o plug, o trem deu um estouro e ele caiu sentado no chão, “branco, branco, branco, igual a uma alma”, como diria meu pai.
Todo mundo na sala – depois de saber o que era – caiu na gargalhada e o cara ficou muitos dias sem o ventilador querido dele. O curto-circuito foi atribuído às gambiarras que eram feitas emendando fios.
Um crime perfeito, que confesso a autoria hoje, pois já está prescrito.
[Crônica LXXXI/2024]