Aproveito a data para reafirmar que sou devoto de Santo Antônio desde que me entendo por gente. Na casa de minhas avós, onde passei os dias da minha infância, Antônio era o santo oficial da família – exceto para Zizinho (tio-avô), que era Testemunha de Jeová.
Lembrei disso quando recebi hoje cedo uma mensagem no grupo dos (ex) colegas de faculdade. Era um “Viva Santo Antônio”, acompanhado por uma música dedicada ao santo, gravada pela Maria Bethânia, e que eu ainda não conhecia. O refrão é: “Que seria de mim, meu Deus / Sem a fé em Antônio?”
Na casa das avós a devoção era tanta, que o santo era invocado para resolver qualquer problema caseiro, de objeto perdido a uma topada (“Valei-me Santantônio!”). Mas o pedido de ajuda mais estranho que presenciei foi o de acompanhar cartas postadas nos correios.
Calma, eu explico.
Eu sempre acompanhava Vózinha à agência dos Correios, que ficava a duas quadras de distância. Era só atravessar a nossa rua, contornar o prédio do Fórum, cruzar outra rua e chegar ao destino. Lá ela se dirigia ao guichê, comprava os selos, colava no envelope e íamos a um canto onde, em uma parede, havia as aberturas para se colocar as correspondências ou encomendas.
Nas diversas ocasiões em que acompanhei o processo, notava que ela antes de colocar o envelope na abertura da parede, dizia algumas palavras em voz baixa. Um dia, a curiosidade falou mais alto e eu perguntei o que ela falava baixinho.
– Estou rezando para que Santo Antônio faça com que essa carta chegue a seu destino, respondeu Vózinha.
Em casa me ensinou a recitar a oração que ela rezava quando postava a correspondência, mas que me serviria para qualquer situação em que eu necessitasse da ajuda de Santo Antônio.
Eu não só decorei os versos, como os recito até hoje quando me deparo com alguma situação que me aflige e que não depende apenas da minha vontade para ser solucionada.
É uma oração simples e eficaz:
Santo Antônio pequenininho,
cobertinho no altar,
benzei este lugar
em que vou passar.
Depois que terminei de escrever esse texto, curioso, coloquei a oração no Google e encontrei várias versões dos versos, com propósitos variados. Tem uma para “fechar o corpo”, outra para “amarrar” o/a amado/a e até “amansar” qualquer pessoa ou um burro bravo.
Eita Santinho versátil, sô!
[Crônica LXXVIII/2024]