
No sentido horário, a Igreja da Intercessão da Virgem no Nerl; Igreja da Transfiguração do Mosteiro Ust-Medveditski;e Igrejinha da Papmbulha (Fotos Reprodução Internet; e Jotabê Medeiros/Blog Farofafa)
Com as leituras aleatórias, a minha cultura inútil ficou mais rica ao saber o significado daquelas cúpulas em formato de cebola que as igrejas russas têm e o que significam para os católicos ortodoxos de lá. Uma coisa que aprendi foi que a quantidade de torres varia de uma a 33, dependendo a que foi consagrada cada uma das catedrais.
Segundo o jornalista Alexander Demianchuk, da Agência Sputnik, as igrejas que têm só uma torre, a cúpula representa o “Deus único”; naquelas com duas torres aceboladas, a representação é das naturezas do Salvador: a divina e a humana. Três, Santíssima Trindade; sete, os símbolos dos sacramentos da Igreja (batismo, confirmação, penitência, eucaristia, ordem, matrimônio e unção dos enfermos). E assim por diante.
O templo que tem mais cúpulas, 33, é a Igreja da Transfiguração do Mosteiro Ust-Medveditski Spaso-Preobrajenski, em Volgogrado, a 960 quilômetros de Moscou. As torres fazem alusão ao número de anos de vida terrena de Cristo.
A flecha de um anjo
Lendo essa mistura de cebolas com igrejas, me lembrei de um causo que ouvi lá em Minas e que eu não consegui checar a autenticidade.
Conta a lenda que em 1962 o arquiteto franco-suiço Le Corbusier visitou Belo Horizonte, especialmente para conhecer o conjunto arquitetônico construído no entorno da lagoa da Pampulha – Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile (antigo Cassino), o Iate Tênis Clube, a Casa Kubitschek e a Igreja de São Francisco de Assis.
Os prédios foram projetados por Oscar Niemeyer, que era admirador e foi influenciado por Le Corbusier.
Quando estavam na igrejinha, um repórter perguntou ao visitante o que ele achou do formato do prédio, que é ondulado. Não me lembro da resposta completa. Sei que sobre a torre do sino, Corbusier disse que o formato da peça o remetia à imagem de um anjo, que do céu, arremessou uma flecha aqui para baixo, que caiu ali ao lado da igreja.
Mais poético que isso, não tem.
Foram ao Niemeyer saber se ele concordava com a descrição do mestre. Ateu e comunista (ou será o contrário?) Niemeyer foi direto e reto: “No alto da torre eu precisava de ‘x‘ metros quadrados para servir de base para o sino. Embaixo eu não precisava dessa área. Então, fiz a base da torre mais estreita que o topo. Não tem anjo, não flecha, não tem nada!”
Acabou a poesia.
[Crônica LXXVII/2024]