Durante a semana que termina hoje (8/5) a imprensa repercutiu – entre outros crimes – a morte de um empresário causada por um procedimento estético (peeling de fenol, seja lá o que for isso). A apuração policial constatou que “a dona da clínica de estética não tem formação de esteticista e fez um curso online de peeling de fenol”.
Ora, os cursos online são muito populares desde o ano 2000 e adquiriu força a partir da flexibilização do EAD no governo Michel Temer, chegando ao ápice na pandemia de Covid-19. Antes do aparecimento da internet, eram oferecidos cursos por correspondência.
A plataforma Youtube passou a ser uma “escola a distância” muito requisitada, onde são oferecidos cursos de todas as espécies imagináveis ou não. Eu, por exemplo, aprendi a trocar a resistência do chuveiro elétrico através de um vídeo. Também substituí o reparo da caixa de descarga e recebi noções de como fritar bacon, e ficar sequinho, no microondas…
Montando um despertador
Há alguns dias levei o meu relógio de pulso a um relojoeiro. Abro parênteses. Uma profissão em extinção. Hoje só há quem troque baterias e pulseiras de relógios. Fecho os parênteses. Pedi para que ele verificasse o mecanismo e limpasse a pulseira, pois não usava o acessório há muito tempo.
Na primeira olhada o profissional disse que a pulseira era original e que eu não precisava substituí-la. “Uma pulseira semelhante a esta custa 150 pilas (moeda paralela)”. A seguir descreveu como faria o conserto. “Vou abrir a máquina e verificar o estado geral. São 118 micro parafusos, além de “não-sei-quantas” engrenagens [não decorei o número] e circuitos. Depois vou limpar tudo e colocar uma nova bateria”.
Quando voltei para buscar o relógio, meia-hora depois, o serviço estava pronto. “Lavado, consertado, bem pintado, um encanto”, como diria Roberto Carlos na música Meu calhambeque. Aí caí na besteira de perguntar se, quando ele abriu o relógio, todos os parafusos estavam no lugar.
“Estavam sim. Vou contar ao senhor como comecei na profissão. Me inscrevi em um curso de relojoeiro. Recebi um kit com um despertador desmontado, todas as peças separadas e numeradas e um ‘mapa’. Tive que montar – fazer funcionar – e desmontar o despertador três vezes. Isso era a prova. Preenchi um papel e mandei prá lá. Daí umas semanas, recebi o meu certificado de relojoeiro. Era por correspondência!” E caiu na risada.
Quem não riu fui eu.
[Crônica LXXV/2024]