Já escrevi dezenas de vezes comentando a respeito de bandeiras que são hasteadas ou colocadas erroneamente em dispositivos em diversas solenidades. Meus olhos detectam imediatamente as bandeiras colocadas de ponta-cabeça ou que estejam invertidas na ordem de procedência, onde a bandeira nacional deve estar sempre em local de destaque – seja ao centro do dispositivo ou à esquerda de quem olha de frente.
Embora não comente mais o assunto, não deixo de notar mentalmente quando vejo uma bandeira hasteada de cabeça para baixo. Às vezes não resisto, como foram dois casos ocorridos recentemente. Antes de contar os causos, soube que nos Estados Unidos, hastear a bandeira nacional de ponta-cabeça é uma forma de protestar.
O primeiro caso foi na sede da Prefeitura de São José. Ao chegar ao prédio, notei que a bandeira do município estava a meio-mastro, o que significa que havia sido decretado luto oficial na cidade. Entrei no saguão e fui direto ao guarda municipal que estava de plantão:
– Boa tarde. Uma informação, por favor.
– Boa tarde, pois não.
– Notei que a bandeira de São José está a meio-pau. O luto é por quem? Quem morreu?
O GM olhou para mim como se eu fosse uma assombração se manifestando de dia. Repeti que a bandeira estava hasteada até a metade do mastro, o que significava luto. Ele se levantou da mesa, abandonando (incrivelmente) o celular e foi até a vidraça verificar de que eu estava falando. Voltou balançando a cabeça negativamente, resmungando: – Não tinha visto, não sei não, ó!
Agradeci e fui embora.
A outra constatação foi durante visita ao forte de São José da Ponta Grossa, em Florianópolis. As bandeiras Nacional, de Santa Catarina e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estavam tremulando ao vento forte vindo do mar, sob um céu limpo. Mas, à primeira vista, notei que a bandeira brasileira estava invertida e falei baixinho: ‘De que adianta o lábaro estrelado estar flamulando, se está de cabeça para baixo?’
Nos States é protesto

Bandeira norte-americana de cabeça para baixo na casa do juiz da Suprema Corte, Samuel Alipo (Reprodução NYT)
Hoje (18/5) li uma matéria, publicada originalmente no New York Times, de quinta-feira (16), em que o jornal volta a um tema antigo e republica a foto da bandeira norte-americana hasteada de forma invertida em frente à casa do juiz da Suprema Corte, Samuel Alito.
A foto é de 2021, no período em que os partidários do ex-presidente Donald Trump alegavam que as eleições haviam sido fraudadas. O hasteamento da bandeira invertida é um símbolo do movimento ”Stop the steal” ou “parem o roubo”. E está pegando mal para o juiz Alito.
Nós, brasileiros, não estamos acostumados a ver isso. Me refiro a juízes se manifestando politicamente (Desculpem, não resisti).
Ah! E “lábaro” é a mesma coisa que bandeira.
[Crônica LXIV/2024]