Eu já conhecia o escritor Elmore Leonard de fama, sabia que era autor de vários livros e roteiros de filmes para o cinema e para o streaming e, finalmente, tive a oportunidade de ler uma obra dele: “Raylan” (Companhia de Letras, São Paulo, 2013), que comprei numa pechincha de uma revistaria.
O livro tem o nome da personagem principal, Raylan Givens, um delegado federal dos Estados Unidos, que apesar de “viver” nos anos 2000, se veste e age como um cowboy, usa botas e um chapéu de abas largas e, claro, saca a arma com rapidez e não perde um tiro. Os críticos literários descrevem Rayan como “engraçado, sombrio e distorcido”. Uma criatura típica do “mundo” de Elmore Leonard.
A personagem foi transportada para as telas na série “Justified”, que tem seis temporadas e atualmente está no Amazon Prime Video. O livro que li é o último dos quatro sobre o delegado e também o derradeiro trabalho de Leonard, que morreu em 2013, pouco tempo depois do lançamento do volume. As três obras anteriores, que têm o delegado federal Raylan Givens como protagonista, são: Pronto, Cárcere privado e Fogo no buraco.
A Marcela e eu estamos acompanhando a série (ainda na segunda temporada) e vi a fidelidade de muitos diálogos e situações narradas no livro exatamente igual no filme. São duas histórias com alguns personagens comuns que fazem crítica à hipocrisia no combate ao comércio e ao uso de drogas e à exploração do carvão mineral no estado norte-americano de Kentucky.
Na série, uma das famílias é dona do plantio e comércio de maconha. No passado, durante a “Lei Seca”, fabricavam uísque a partir de frutas, especialmente o pêssego. Com o fim da proibição, o negócio não deu mais lucro e eles se transferiram para a cultura da Cannabis sativa. Em um diálogo entre o delegado Raylan e o chefe dele, Raylan diz: “As únicas pessoas que se preocupam com a maconha são as que nunca provaram”. Pode ser.
Já no que se refere à exploração predatória do carvão mineral, o trecho que transcrevo me faz lembrar da tragédia de Mariana, em Minas Gerais, em 2015. Elmore Leonard coloca a seguinte frase na boca de uma das personagens durante a reunião de moradores da área de mineração com a representante da empresa: “Vocês dão o fora sem limpar a sujeira que sempre deixam para trás. Um reservatório arrebenta, onde vocês guardam trezentos milhões de galões de lama, cheia de veneno, produtos químicos tóxicos, e derramam sobre o vale contaminando a água (…)”.
Como eu gosto da série, também gostei do romance, que vale ser lido como passatempo, nada mais.