As lendas são definidas no dicionário Houaiss – entre outras acepções – como “(…) 2.narrativa popular vista como fato histórico, mas sem comprovação; 3. pessoa ou coisa que inspira uma dessas narrativas (…)”. E foi para confirmar uma lenda que o engenheiro de minas Victor Dequech foi enviado para os confins da Amazônia em 1941, em um contexto histórico complicado: no comecinho da Segunda Guerra Mundial e o Brasil com muita dívida externa.
Para ajudar a resolver o problema da dívida externa, o governo brasileiro resolveu mandar procurar as Minas de Urucumacuan, que estariam localizadas em algum lugar entre os rios Apidiá e Corumbiara, ou entre os rios Barão de Melgaço e Pimenta Bueno, ou nas cabeceiras dos rios Camararé e Jamari. Todos os cursos ocorrem em território hoje pertencente ao Estado de Rondônia.

A expedição conseguia proteínas através da caça e pesca (Fotograma documentário “Nas trilhas de Urucumacuã”)
O marechal Rondon, durante a implantação das linhas telegráficas Mato Grosso – Amazonas, acreditou ter encontrado sinais das minas de Urucumacuã nas coordenadas geográficas entre os meridianos de 60º e 61º a Oeste de Greenwich e os paralelos de 12º e 13º latitude Sul, registrando o achado em cartórios como “Manifesto do Descoberto”.
O engenheiro de minas Victor Dequech se ofereceu para fazer parte de uma missão que foi enviada para buscar as famosas minas e durante dois anos e meio – 1941/1943 – palmilhou a região apontada como sendo o local onde havia muito ouro e não encontrou nada.
Tomei conhecimento dessa aventura de Victor Derech quando trabalhava no jornal Alto Madeira, de Porto Velho. Foram publicados artigos sobre a expedição (a primeira parte da publicação ocorreu em 1988, também no Alto Madeira) e eu os li e guardei as edições por um grande tempo. Em uma das minhas mudanças, os papéis sumiram.
No dia 13 de abril, li uma nota publicada no jornal Estado de Minas sobre o lançamento de um livro contando toda a história da Expedição Urucumacuan e voltei a me interessar pelo assunto. Fiz contato com a FVD (Fundação Victor Dequech), que lançou a obra, e recebi gratuitamente a obra em casa.
O livro “Victor Dequech – e a Expedição Urucumacuan – A história de um brasileiro visionário”, editado pelo Studio Anta (Belo Horizonte, 2023), me levou de volta a lugares e a pessoas a quem conheço pessoalmente ou por literatura.
Os textos, com base em diários de campo muito detalhistas, fazem com que você viva com os expedicionários as agruras que eles enfrentaram, como picadas de mosquitos, abelhas, marimbondos; e a aventura de navegar em rios cobertos de aguapés e outras vegetações flutuantes; sirgar as inúmeras cachoeiras e corredeiras existentes nos rios explorados, além das dificuldades enfrentadas em uma região do Brasil que até hoje é inóspita.
A busca pelo ouro foi feita com critérios científicos e de toda a região em que o marechal Rondon apontava como uma área aurífera promissora foram colhidas amostras de solo, que levaram à conclusão que não havia aquele metal no local. Em entrevista que faz parte do curta-metragem “Nas trilhas de Urucumacuã”, do amigo cineasta Beto Bertagna, Victor Dequech diz categoricamente: “Até hoje [2005] ninguém descobriu ouro! Não descobriu por um fato simples: não tem ouro lá, como eu afirmei em 1943!”
Rio do Rastro

A expedição em um dos rios da região explorada (Foto Victor Dequech / via História de Ariquemes.blogspot)
Sobre a lenda, há registros escritos da existência das minas de Urucumacuan desde 1754 e a tradição oral fez o resto. Já li várias versões da história, em uma delas as minas, na verdade seriam cavernas onde os Incas, fugindo dos espanhóis, trouxeram seus tesouros e guardam ali.
Também há a história alternativa de que ali seria um das localizações da tal cidade El Dorado – lugar onde o ouro era a matéria-prima das casas, ruas e monumentos. A riqueza era tanta, “que o imperador tinha o hábito de se espojar no ouro em pó, para ficar com a pele dourada”.
E por isso continuam procurando as minas de Urucumacuan, vai que…