27 de abril de 2024

É melhor convidar

Por José Carlos Sá

Zema (esq) e Lula, em visita do presidente a Minas em fevereiro. Desta vez eles não se cruzaram (Foto Ricardo Stuckert/EBC)

Na sexta-feira, 26 de abril, o presidente Lula inaugurou uma fábrica de insulina em Nova Lima, na Grande Beagá. Evento da maior importância para nós diabéticos. A insulina é responsável por manter o controle do açúcar no sangue e quando o pâncreas do indivíduo não produz o hormônio, é preciso o uso da versão sintetizada artificialmente, sob pena do aparecimento ou avanço da diabetes.

No entanto, a importância do evento foi eclipsado por um fato político: o não comparecimento do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. A equipe do governador diz que ele não foi convidado; o cerimonial da Presidência afirma que a festa era particular, da empresa responsável pelo laboratório e que convidou quem quis; a empresa fala que convidou o governador e que recebeu, de pronto, a resposta  “que Zema não poderia participar e que seria representado pela secretária-adjunta de Saúde, Poliana Lopes”. 

A ausência de Zema, no entanto, deixou a dúvida se houve boicote por parte da equipe presidencial, já que o governador mineiro tem simpatia ostensiva ao ex-presidente Bolsonaro e é apontado como potencial candidato ao Planalto em 2026.

Já vi isso acontecer antes e conto dois causos. Em ambos houve erros da assessoria do governador, causando um mal-estar político desnecessário.

Logo no início da administração Jerônimo Santana, eleito para mandato de 15 de março de 1987 a 15 de março de 1991, como governador de Rondônia, houve a inauguração do Cemetron (Centro de Medicina Tropical de Rondônia). O hospital, referência nacional no tratamento de doenças tropicais, foi totalmente construído durante o governo de Ângelo Angelin (1985 a 1987) e deixado para o sucessor – que era do mesmo partido (PMDB) – inaugurar. No dia da festa, Angelin, mesmo sem ter sido convidado, compareceu, mas sua presença sequer foi citada pelo cerimonial e nem nos discursos.

No outro caso, a omissão custou caro. Aconteceu na abertura da tradicional Expoari – Exposição Agropecuária e Comercial de Ariquemes, cidade a pouco mais de 200 quilômetros da capital rondoniense. 

O mestre de cerimônias foi chamando os oradores e quando passaria a palavra para o governador Jerônimo Santana, em tese o último a falar na cerimônia, o prefeito da cidade, o polêmico Ernandes Amorim, se adiantou, tomou o microfone da mão da funcionária e fez um discurso duro, xingando os presentes e os ausentes. Ao final, jogou o microfone no chão e foi embora.

Todos ficaram sem ação, olhando o prefeito se afastar. Depois houve a caça às bruxas para saber quem não tinha incluído o Amorim na lista dos convidados e dos oradores. 

Credito aos assessores, que tomam as dores dos chefes, a  responsabilidade por falhas desse gênero. E volto ao começo. A assessoria política do presidente deveria ter tomado conhecimento da ausência anunciada do governador e sugerido ao presidente Lula um convite pessoal, por telefone, ao Zema. Não custaria nada e ficaria bonito na foto.

[Crônica LVII/2024]