No bairro onde eu moro é comum passar carros vendendo produtos diversos, e o anúncio é feito através de uma gravação irradiada por alto-falantes. Na maioria das vezes, os veículos trafegam em uma velocidade que não permite ao eventual cliente entender o que estão oferecendo. Quando você entende o que é o assunto, o carro já está longe.
Talvez seja uma estratégia própria desse tipo de comércio: o carro passa x vezes em determinada rua anunciando o produto como se fosse uma ambulância, quem está em casa fica atento e curioso, e na terceira volta do carro se vê obrigado a sair na rua e fazer sinal para o comércio ambulante. Vai que é algo que esteja precisando.
Costumam passar por aqui o “carro dos produtos de limpeza”, o carro da Ultragaz (que não aparece quando a sua botija de gás está vazia), o carro que recolhe óleo de cozinha usado e o “carro do picolé cremoso de fruta natural, com palito premiado”. Já os carros das panelas, das laranjas e dos ovos devem estar circulando em outra freguesia.
Ontem ouvi uma oferta absolutamente inusitada. A locução oferecia o aluguel de betoneiras (máquina para misturar concreto) de todos os tamanhos, por X reais a diária: “Peça ‘help’ pra Ebenezer Betoneiras”, e informava o whatsapp. Desta vez consegui ouvir a mensagem completa. Depois fiquei pensando: Para que eu prestei atenção ao reclame se não temos obras em casa e não preciso de uma betoneira para nada?
[Crônica LIV/2024]