Madalena, realmente, não tinha sorte. Quando solteira ficou esperando o príncipe encantado, escolhendo os namorados e encontrando defeitos em todos. O resultado é que o príncipe não apareceu e ela, no desespero dos 28 anos, casou-se com o primeiro pretendente que apareceu.
O marido era garimpeiro, no auge do garimpo de ouro no rio Madeira, e os primeiros anos da vida a dois foram ótimos: casa boa, roupa de grife, festas hollywoodianas, carro novo com motorista e outras gastanças que os novos ricos costumam fazer para ostentar o dinheiro que têm.
Mas a “Mãe do Ouro”*, como dizem os garimpeiros, cobrou sua cota. O garimpo acabou e o casal começou a se desfazer dos bens adquiridos.
Com um restinho de dinheiro compraram uma casinha na periferia da cidade e ela teve que trabalhar para ajudar nas despesas. O marido passou a beber descontroladamente e a bater na Madalena. A velha história.
Para fugir daquela vida, ela arranjou outro homem e se separou do marido, sonhando com uma nova vida. Mas o sonho virou pesadelo e a mão do novo marido era mais pesada que a do anterior.
Sem saber o que fazer, Madalena aproveitou a data do dia dos namorados para voltar para o primeiro marido e tentar uma reconciliação.
O que conseguiu foi uma nova surra, e agora vive se lamentando do azar que a acompanha pela vida.
Vida de Madalena.
* Mãe do Ouro – Na versão da lenda que me contaram, a Mãe do Ouro indica o local onde está o minério, mas um tempo depois volta para buscar tudo que foi extraído da mina, e se o garimpeiro não foi previdente, guardando algum dinheiro, ficará numa miséria pior àquela em que ele vivia antes de ficar rico
[Crônica XXX/2024 – Texto baseado em fatos, e publicado originalmente no jornal Diário da Amazônia, Porto Velho (RO), edição de 18 de junho de 1995]