Muitas pessoas têm uma verdadeira aversão de segunda-feira. É comum ouvir gente se lamentando da semana ter recomeçado, depois de um curto final de semana. Há quem nem saia de casa, mas mesmo assim protesta contra o retorno ao trabalho.
O contrário acontece nas sextas-feiras, quando virou costume o cumprimento ser o (aborrecido, para mim) “sextou!”, que é dito com uma efusão de quem espera o dia seguinte como o fim de tempos tormentosos. Eu já vivi a experiência oposta. Para mim sexta-feira era o pior dia da semana.
Eu morava em Brasília e trabalhava na Câmara dos Deputados. Sexta-feira era quase uma festa no gabinete. Meus colegas, a partir da quinta-feira, faziam planos para o final de semana com as respectivas famílias e eu, que morava só e não conhecia ninguém fora daquele ambiente, me entristecia. Procurava eventos na cidade – de preferência gratuitos – e tentava me ocupar nos dois dias sem expediente.
Meus colegas, após o bom dia regimental diziam efusivamente “*utamerda, hoje é sexta-feira!”. E eu respondia com a mesma frase mas em um tom lúgubre: “*utamerda! Hoje é sexta-feira”.
E assim foi durante um ano, quando eu passava o final de semana sonhando com o retorno da segundona!
[Crônica XXVII/2024]