Montagem com posteres do filme (Divulgação/JCarlos)
An-gus-ti-an-te. É para ler assim mesmo, separada em sílabas e pronunciada pausadamente. Foi angústia que senti assistindo ao filme Dentro (Inside) Banksid Filmes/2023, na telinha do Prime Vídeo. A história é a tentativa do roubo de três obras de arte em um apartamento de cobertura em Nova Iorque. O ladrão, Nemo (Willem Dafoe), fica preso no apartamento quando o sistema de segurança deu pau e ele não conseguiu abrir a porta para escapar. As defesas anti-intrusos são acionadas então e o apartamento se torna uma caixa inexpugnável. Além disso, os comparsas dele o abandonaram.
A “casa inteligente”, toda comandada por inteligência artificial, aciona as defesas e tranca a varanda e as janelas; a água é cortada, assim como as comunicações com o exterior. Continuam funcionando a energia elétrica e alguns aparelhos, como o sistema de vigilância por câmeras e o torturante ar condicionado – que oscila de temperaturas baixíssimas ao clima do deserto do Saara. A escassez de água e comida, além do isolamento, criam o estado de quase demência do protagonista. A única concessão de humor que o roteirista faz ao personagem e ao espectador é quando o freezer é deixado com a porta aberta por mais de 20 segundos toca a (irritante) música Macarena, que foi sucesso no final dos anos 1990.
A foto com a escada de embarque apareceu diversas vezes no filme e eu a reconheci… (Foto Divulgação)
… chama-se “Centro de Detenção Temporária” e é de 2007, do artista Adrian Paci (Reprodução)
No mais são a angústia da solidão, da privação da liberdade e um monte de metáforas transmitidas pelas obras de arte espalhadas pelo apartamento, entre elas uma escada de embarque de aeroportos, cheia de gente, mas sem avião… O final do filme fica em aberto, o freguês é quem dá o destino que quiser ao sofrido ladrão.
Gostei do filme pela forma que o diretor grego Vasilis Katsoupis conduziu o depauperamento da personagem e do ambiente no tempo em que passa confinado. As visões, a demência e decadência da pessoa, abandonada à própria sorte em um local paradoxalmente bonito e confortável. Também me identifiquei com o “humor” das máquinas, que, se em um momento te ajudam, em seguida fazem você elouquecer.
É para assistir, beber um copo d’água gelado e ir dormir pensando.