
Sempre tenho dúvidas na hora de presentear com um livro. (Imagem gerada por I. A. Co-piloto/Microsoft.Com)
Quando preciso presentear alguém, a primeira opção é um livro. Mas isso se torna complicado quando não conheço o gosto literário da pessoa.
Lembrei disso ao ler uma matéria do Estado de S. Paulo sobre o trabalho dos livreiros, como são chamados os proprietários ou quem trabalha em livraria. Alguns conseguem saber o que o freguês está querendo apenas com a dica da cor da capa, por exemplo.
Há alguns anos tirei no amigo secreto o nome de um colega de trabalho, que apesar de nos conhecermos há muito tempo, eu não sabia nem se gostava de ler livros. Mesmo assim resolvi presenteá-lo com um. Assumi um risco calculado.
Fui a uma livraria que funcionava no antigo “Rio Shopping” (primeiro “shopping” de Porto Velho, mesmo sendo uma galeria). Sem saber o que queria, fui olhando as novidades, os clássicos e, por que não, os ‘best-sellers de banca de aeroporto’.
Notando a minha indecisão, a “livreira” ofereceu ajuda, eu disse o que procurava e o motivo da minha hesitação. Naquele momento o telefone tocou e ela foi atender, foi quando me deparei com um exemplar do livro “Cinzas do Norte”, do Milton Hatoum, autor que tinha ficado famoso recentemente com a exibição, pela TV Globo, de uma minissérie baseada na obra dele “Dois Irmãos”. Falei comigo: é esse!
Levei o livro ao balcão para pagar, sob a condição da possibilidade de troca. A livreira pegou o exemplar, passou os olhos pela capa e falou com muita segurança: – O seu amigo secreto não vai gostar! Esse autor ninguém conhece… Se você quiser, mostro um [livro] que tem saído bastante. Hoje mesmo vendi dois…
Agradeci e insisti na escolha, mas o diabinho da insegurança assumiu o controle da minha pessoa. No final da tarde, na troca de presentes, com mãos trêmulas, entreguei o pacote com um cartão da livraria e ressaltei que o presente podia ser trocado.
Tentei esquecer o assunto durante o final de semana. Cheguei ao trabalho na segunda-feira esperando o comentário do colega. Para mim havia apenas 1% de esperança de que ele tivesse gostado. Estava pensando nisso quando ele apareceu. A suadeira foi involuntária.
– Zé! [Ai, ai, ai, comecei a sofrer] Que livro! A história se passa na rua em que meu avô morava em Manaus! Eu conheço aquilo ali tudo, foi como se voltasse à minha infância.
[Suspiro aliviado] – Que bom! Ainda bem que você gostou. Eu nem dormi de sexta-feira pra cá…
[Crônica XVIII/2024]