Manhã de sábado. Na boca, o gosto de uma noite mal dormida e da fermentação da cerveja da véspera. Acordei com alguém chamando no portão, o que levou meu mau humor matinal a níveis de combustão espontânea.
Pedi para aguardarem um momento enquanto lavava o rosto, escovava os dentes e desamarrotava a cara.
Eram religiosas, todas portando exemplares da Bíblia. Pediam contribuição para a obra que ajudavam e para que eu participasse de uma pesquisa, ressaltaram que a minha participação seria muito importante.
Fazendo cara de interesse, entreguei a contribuição e fiquei esperando as perguntas. Na verdade era só uma questão, e – por sinal – muito importante. Depois de um preâmbulo, a mulher que parecia ser a chefe das missionárias, perguntou à queima-roupa: “… e Deus existe?”
Respirei fundo e tentei dar uma entonação respeitosa à resposta: “Se as senhoras, que são religiosas, perguntam a mim, leigo, se Deus existe, é por que estamos chegando ao fim do mundo, ao Armagedon”.
[Crônica XVII/2024 – Texto original publicado no Espaço da Prosa, no jornal Alto Madeira – Porto Velho (RO), de 10 de março de 1999]