O plano foi traçado com a minúcia que o ódio ditou. Cada xingamento recebido, cada tapa, cada lágrima estavam ali representados.
Retirou a botija de gás do fogão e a arrastou casa a dentro, depois se trancou com os quatro filhos no quarto, e vedou a porta e a janela com toalhas e panos de pratos encharcados com água. Com a ponta fina da faca de cortar legumes começou a forçar a válvula da botija de gás.
A vingança era dupla: todos inalariam o gás até morrerem, quando ele chegasse e ligasse a luz da sala, a casa explodia e aquele feladaputa ia explodir junto.
E foi então que lembrou: o gás acabou naquela manhã, e a ansiedade para executar o plano fez com que se esquecesse de comprar uma nova botija.
[Miniconto III/2024 – Texto original sem data, da década de 1990. Inédito]