Há muito tenho guardada – e não mexia nela – a curiosidade de saber o que estava por trás da renúncia do ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992), que governou o Brasil por meros sete meses, de 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961.
A história conta que ele declarou ter sido forçado a isso por “forças terríveis” e esperava que o povo – junto com as Forças Armadas – o reconduzisse ao poder, levado de volta ao Palácio do Planalto pelos braços da multidão.
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A Biblioteca do Senado Federal lançou o depoimento do jornalista Carlos Castelo Branco sobre a renúncia de Jânio Quadro (Reprodução)
A oportunidade para esclarecer aqueles fatos apareceu quando a Livraria (Edições) do Senado disponibilizou vários livros eletrônicos de seu catálogo para baixar de graça. Escolhi justamente “A renúncia de Jânio: Um depoimento”, do jornalista Carlos Castelo Branco, para tentar entender o que aconteceu antes do ato de “autodemissão” da Presidência da República, que resultou no golpe militar de 1964.
O jornalista Carlos Castelo Branco foi testemunha privilegiada dos fatos, pois ocupava o cargo de secretário de Imprensa da Presidência da República e assistiu as tramas de bastidores em que os partidos políticos aliados disputavam ‘palmo-a-palmo’ espaço no governo. Nada diferente do que acontece hoje e do que sempre ocorreu.
Nessa disputa de poder se digladiavam ferozmente o ministro da Justiça Oscar Pedroso Horta, fiador do apoio de vários grupos à eleição de Jânio Quadros à Presidência, especialmente o PSD (Partido Social Democrático) e, do outro lado, o jornalista e deputado federal mineiro José Aparecido de Oliveira, eleito pela UDN (União Democrática), que defendia os interesses do governador Magalhães Pinto, de Minas Gerais. Enfim, uma salada de interesses antagônicos.
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O jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, fazia oposição sistemática ao governo de Jânio Quadros (Facsimele da edição de 26/08/1961/Hemeroteca Nacional)
Contribuiam ainda para o caldeirão em ebulição as atitudes do vice-presidente João Goulart, que flertava com as esquerdas, especialmente com o Partido Comunista; e o governador do extinto Estado da Guanabara, o também jornalista Carlos Lacerda.
O autor não conclui nada. Apresenta vários fatos que podem ter colaborado para a decisão da renúncia, entre eles um histórico do político Jânio Quadros de fazer uso do expediente da renúncia, como se fosse uma estratégia política, dando a entender que o adversário era o culpado pela desistência dele.
Fruto de um contexto político complicado, Jânio Quadros queria distância dos deputados e senadores, mas ao mesmo tempo “tinha a certeza” que o Congresso não aceitaria a renúncia e que a população e as Forças Armadas o reconduziriam à presidência, dando poderes ditatoriais para, aí sim, exterminar a corrupção do Brasil.
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“Fi-lo porque qui-lo!” teria dito Jânio Quadros para justificar a renúncia (Foto Reprodução Aventuras da História. Com. BR)
Jânio se esqueceu de combinar o jogo. No Congresso, diante da indecisão do presidente da sessão, o deputado Auro de Moura Andrade (PSD-SP), e da divisão entre os presentes se aceitavam ou não a carta, um deputado – cujo nome não me recordo – deu a martelada final ao assunto, dizendo que a renúncia era um ato unilateral e não cabia discuti-la, apenas receber e dar continuidade às providências necessárias para o cumprimento da vontade do autor.
Lido o livro, permanece em mim a dúvida se a história foi assim mesmo.