Cheguei cedo ao aeroporto. A intenção era despachar um porco para um parente em outra cidade. Pensei que via aérea seria mais prático e rápido.
A dificuldade começou com o carregador, que se recusou a levar o engradado com o suíno. Disse que carregava malas, pacotes, mas porco, não! Arrastei, eu mesmo, a caixa de madeira pelo saguão do aeroporto, indo até o balcão da empresa. O tapete vermelho atrapalhou um pouco, mas consegui chegar até a moça, que de nariz franzido disse que não poderia me atender ali. Eu teria – disse ela – que ir até o terminal de cargas.
À minha volta, um bando de curiosos despertou a atenção dos funcionários da segurança. Fui convidado a retirar o meu porco dali, ou chamariam a polícia. Eu não entendia porque um simples porco, tratado com macaxeira, frutas e milho (nunca comeu restos de comida) incomodava tanto. Ele, o porco, olhava fascinado para as luzes e para as pessoas. Nunca tinha visto nada igual.
Arrastei o caixote de volta em busca do tal terminal. Já me esperavam, alertados pela moça do balcão. Antes que eu dissesse qualquer coisa, o balconista pediu a licença do Ibama para o porco viajar. Eu disse que era um porco doméstico, não era um porco-espinho nem porco-do-mato, caititu ou queixada, nem mesmo um porquinho-da-Índia. Meus argumentos não adiantaram nada.
Lá fui eu com o meu porco para a superintendência do Ibama. O porteiro não deixou que ele entrasse comigo, mas, num gesto de boa vontade, permitiu que eu colocasse o engradado na garagem. Meu porco grunhiu em protesto, talvez querendo conhecer aquela repartição tão importante para os humanos.
Andei de mesa em mesa, de departamento em departamento. Os assessores jurídicos, com os seus juridiquês, diziam coisas que eu não entendia. Falaram que não tinham uma tal jurisprudência. O superintendente, depois de ligar para Brasília, disse que o transporte aéreo de suínos não era competência da autarquia (pensei que o nome fosse Ibama!), mas da Delegacia Federal de Agricultura. Pronto, murmurei: Não sabia que tinha polícia para cuidar da agricultura…
Coloquei o porco na carroceria da caminhonete e fui para a tal delegacia. Esperei exatamente duas horas e 27 minutos até que dissessem que o assunto era da Vigilância Sanitária, mas tinham dúvidas se era da estadual ou da municipal.
Descobri, pelo meio mais difícil, que a licença para o meu porco viajar era municipal. O pobre animal foi submetido a todos os exames, um verdadeiro check-up veterinário. Dois dias depois saiu o laudo atestando sanidade animal (Eu não disse que era um porco sadio, bem tratado?). Paguei as taxas e retornei ao aeroporto. Lá informaram que não havia nenhuma empresa em que o avião fizesse uma escala para onde eu queria mandar o porco. Ele ficou cabisbaixo e triste, porque estava perdendo a chance de andar de avião pela primeira vez na vida.
[Crônica VI/2024 – Texto baseado em uma carta de um leitor ao Jornal do Meio Ambiente. Ele queria mandar um porco de Maceió (AL) para Fortaleza (CE). A crônica foi publicada na Página Lítero-Cultural do jornal Alto Madeira, Porto Velho (RO), edição de 23/01/2000]