A conquista da colega de trabalho foi difícil. Empregou mil artimanhas para conseguir um simples olhar de sua musa, pois esse negócio de “amor platônico” não está mais na moda.
Flores, presentinhos, convites para a cerveja, foram alguns dos artifícios utilizados na aproximação e no início da amizade entre eles. Neste ponto da história os esforços passaram a ser direcionados para conduzir o companheirismo a um estágio posterior: a cama.
Meias palavras, insinuações e sugestões explícitas não foram economizadas, sem que ele sentisse que aquilo surtia efeito. Até que uma proposta direta para irem passar uma noite num motel foi feita, sem nenhuma esperança de sucesso.
A proposta foi aceita na hora, o que causou surpresa. Será que as defesas dela já estavam ‘minadas’?
Tudo pronto, motel escolhido com esmero – simplesmente o melhor e mais caro da cidade -, a suíte Wonderful Sky reservada, com uma garrafa de champanhe no frigobar para comemorar a ocasião. A performance também teve sua preparação, com a escolha de algumas das 529 posições sugeridas no livro “Kama Sutra”, treinadas em casa, na frente do espelho. Escolheu apenas aquelas que não seria preciso fazer contorcionismo.
E tudo correu bem. Estava sendo uma noite inesquecível!
Na saída, quase de manhãzinha, a alma leve, o sabor da vitória nos lábios, o sorriso que não se desmanchava e, de repente, tudo desmorona.
O dinheiro que tinha na carteira era insuficiente para pagar as despesas. O cartão de crédito estava vencido e o talão de cheques não tinha mais nenhuma folha.
A única alternativa aceita pelo insensível gerente foi deixar a mulher em penhora até que ele conseguisse levantar o valor necessário para resgatá-la.
Hoje eles se cumprimentam, mas não se olham mais nos olhos.
Como o destino é cruel com as pessoas.
[Crônica V/2024 – Texto inspirado em uma conversa ouvida no ônibus e publicado no Jornal Alto Madeira de 10/12/1993, Porto Velho (RO)]